O lobista Teófilo Nhangumele, tido como uma das principais figuras em julgamento, em Maputo, revelou a existência de um alto nível de conhecimento e envolvimento do Presidente da República, Filipe Nyusi, no processo de elaboração do projecto, que culminou com as dívidas ocultas.
Nhangumele é o segundo arguido a ser ouvido pelo Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, depois de Cipriano Mutota, funcionário sénior do Serviço de Informação e Segurança do Estado, ter admitido ser seu amigo e recebido valores resultantes do esquema que deixou Moçambique com uma dívida de mais de dois mil milhões de dólares americanos.
O lobista formado em relações internacionais explicou, nesta quarta-feira, 25, a génese do projecto, que era descrito como de protecção costeira da Zona Económica Exclusiva, tendo sublinhado que então ministro da Defesa Nacional, Filipe Nyusi, participou do encontro inicial, que serviu para apresentar a iniciativa ao Presidente da República, Armando Guebuza.
Numa longa alocução com um cocktail de dados, Nhagumele defendeu que o projecto era fundamental para garantir a segurança da costa moçambicana e tinha tudo traçado para ser viável.
“Se todos tivessem a noção dos perigos que estavam em causa, ninguém seria capaz de questionar o projecto” disse Nhangumele.
Além de Guebuza e Nyusi, o lobista falou do papel de Manuel Chang, na altura ministro das Finanças, na estrutura financeira do projecto, e revelou que, na primeira fase, o mesmo não foi financiado de imediato, por causa dos limites impostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre o endividamento externo.
O projecto estava inicialmente orçado em 302 milhões de dólares e a primeira proposta de financiamento apontava para a tentativa de constituir um sindicato da banca nacional, contudo, foi através de um sindicato facilitado pela Credit Suisse que tal viria a acontecer, já em valores bilionários.
Espera-se que, nesta quinta-feira, 26, Nhangumele abra mais o leque, com detalhes e revelações sobre o esquema.