O antigo Governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, encerrou nesta terça-feira (23) a lista de altos dirigentes do Banco Central, chamados a declarar sobre a sua participação no calote dos 2.2 mil milhões de dólares ao Estado.
Tal como os administradores que por ali passaram, Gove alinhou no que parecia um discurso combinado, admitindo que houve ilegalidades no expediente submetido ao Banco Central, cuja aprovação era uma das principais condições exigidas pelos credores, para canalizar o valor, ainda assim, dizem terem dado luz verde, em nome da soberania.
"Tendo em conta aquilo que se referiu, de que era uma situação de soberania e com carácter de urgência, e, na altura, todos nós sabíamos o tipo de ambiente político que se vivia no país, tivemos que ter em conta, primeiro as questões de soberania, e depois ver se há algo que tenha contrariado a lei" disse Gove, durante a sua audição pelo tribunal, onde passou nesta terça-feira como declarante.
O antigo governador reconheceu que o expediente tinha vícios, contudo, eram de um nível de "insuficiência suprível".
Oposição incrédula
Ernesto Gove, disse ainda ter acreditado na boa fé do projecto, porque tinha apadrinhamento do executivo.
"Tendo em conta os actores que intervieram no processo, (ou seja) para além de empresas, entraram membros do governo no processo, então era muito difícil duvidar da bondade do projecto" frisou Gove.
Do parlamento, a oposição abana a cabeça em tom crítico, incrédula pelo que classifica de captura do Estado.
"Custa acreditar que quadros séniores de instituições do Estado, como o Banco de Moçambique autorizaram este flagelo nacional em obediência a ordens ilegais, quando no acto do juramento prometeram obedecer as leis moçambicanas" disse José Manteigas, porta-voz da Renamo, o maior partido político da oposição.
Nos próximos dias, espera-se que passem pelo banco de declarantes antigos e actuais funcionários do Ministério das Finanças, para falarem do que sabem do escândalo do calote.