O Senado dos EUA, controlado pelos republicanos, aprovou Robert F. Kennedy Jr. como secretário da Saúde na quinta-feira, 13, ignorando o alarme da comunidade médica sobre a sua história de promover a desinformação sobre vacinas e negar factos científicos.
Conhecido amplamente como “RFK Jr”, o sobrinho de 71 anos do falecido Presidente John F. Kennedy, garantiu a nomeação por uma votação de 52-48, tornando-se a mais recente adição ao gabinete do Presidente Donald Trump.
O antigo líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, votou contra, sendo o único dissidente republicano.
Kennedy dirige agora um departamento que supervisiona mais de 80 mil funcionários e um orçamento de 1,7 biliões de dólares, numa altura em que os cientistas alertam para a ameaça crescente de a gripe das aves desencadear uma pandemia humana, enquanto as taxas de vacinação em declínio significam que doenças infantis outrora vencidas estão a ressurgir.
No passado, ele foi um advogado ambientalista que processou o gigante químico Monsanto e acusou os negacionistas das alterações climáticas de serem traidores.
Mas passou a maior parte das últimas duas décadas a divulgar teorias da conspiração, desde a ligação das vacinas infantis ao autismo e a sugestão de que o vírus da Covid poupou os judeus Ashkenazi e os chineses, até à dúvida sobre se os germes causam doenças infecciosas.
No entanto, foi a sua mudança para posições republicanas - em particular no que respeita ao aborto, que apoiou em tempos mas que desde então tem manifestado vontade de restringir ainda mais - que acabou por conquistar os legisladores conservadores, desconfiados do seu passado.
Durante as acaloradas audiências de confirmação, os democratas chamaram a atenção para aquilo a que consideraram conflitos de interesses flagrantes nos registos financeiros de Kennedy: honorários de consultoria lucrativos de firmas de advogados que processam empresas farmacêuticas.
Também chamaram a atenção para as alegações de má conduta sexual e para as suas afirmações que ligam os tiroteios em escolas a antidepressivos.
Tornar a América Saudável de Novo
Kennedy encontrou uma base mais estável ao promover a sua agenda “Make America Healthy Again” (MAHA) - uma brincadeira com o slogan de Trump - ao enfatizar a necessidade de combater a crise de doenças crónicas do país, responsabilizando mais a indústria alimentar.
Estas ideias têm ressonância em todos os partidos, embora os especialistas questionem a forma como ele as irá implementar, dada a sua relação conturbada com as provas científicas.
Kennedy lançou inicialmente uma candidatura independente nas eleições presidenciais de 2024, tornando-se notícia com uma série de revelações bizarras.
Entre elas, a sua alegação de ter recuperado de um verme parasita no cérebro e a história da sua filha sobre o facto de ter usado uma serra eléctrica para decapitar uma baleia morta.
No ano passado, 77 vencedores do Prémio Nobel escreveram uma carta aberta ao Senado contra a sua nomeação, avisando que a sua confirmação poderia colocar a saúde pública “em perigo”.
A sua prima Caroline Kennedy, uma antiga diplomata, acusou-o recentemente de ser um “predador” que levou os seus familiares mais novos para o caminho da toxicodependência.
Desastre à espera de acontecer
“É um homem assustador, um homem perigoso, e penso que vai fazer mal”, disse à AFP Paul Offit, um dos maiores especialistas em vacinas do Hospital Pediátrico de Filadélfia, para quem "é um desastre à espera de acontecer, e vai acontecer”.
Os críticos acusaram os senadores republicanos de estarem a olhar para o outro lado.
“Eles preferem fingir que é de alguma forma credível que RFK Jr. não vai usar o seu novo poder para fazer exatamente a coisa que tem tentado fazer durante décadas - minar as vacinas”, disse a senadora democrata Patty Murray.
Nada impede Kennedy de demitir o comité consultivo de vacinas dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), que determina quais as vacinas que devem ser cobertas pelos seguros, acrescentou.
Kennedy também prometeu esvaziar a Food and Drug Administration e suspender a pesquisa sobre doenças infecciosas.
O Senado aprovou todas as escolhas do Presidente Donald Trump até à data.
Apenas um dia antes, os legisladores deram luz verde a Tulsi Gabbard para supervisionar os serviços de inteligência dos EUA, apesar das críticas sobre seu histórico limitado e apoio passado a nações adversárias, como a Rússia e a Síria.
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