Em Moçambique, há o risco de o governo, sector privado e o crime organizado cada vez mais manipularem a imprensa, o que pode influenciar a opinião pública e tribunais.
Algumas vozes sustentam que a fraca viabilidade económica das publicações e questões éticas poderão estar na origem da situação.
Considera-se crítica a ingerência do sector privado e crime organizado na imprensa privada, enquanto na estatal a agenda política é controlada pelo governo.
A situação mereceu destaque, ontem, 23, na “Conferência Nacional de Comunicação Social, Violência e Paz”, promovida pelo Conselho Superior de Comunicação Social (CSCS).
Segundo a imprensa local, Rogério Sitoe, um dos respeitados editores do país, disse na conferência que os criminosos impõem o silêncio sobre actos criminais e corruptos, e conquistam espaço nos media para disputar decisões judiciais ou antecipar os veredictos.
Fátima Mimbire, pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP), disse à VOA que a falta de publicidade e recursos para sustentar os órgãos de comunicação social não é suficiente para os jornalistas deixarem a profissão nas mãos de criminosos.
A antiga jornalista deu o exemplo de Nini Satar, condenado no caso do assassinato do jornalista Carlos Cardoso, que mesmo na cadeia de máxima segurança publicava opiniões.
Ela questiona “será que a Procuradoria não viu o que ele publicava nos jornais?” O silêncio, continua Mimbire, “é reflexo da falta de responsabilização, no geral, que temos ao nível do país”.
Mimbire pede mais acção das autoridades para disciplinar o sector da comunicação e aconselha que a sua sustentabilidade económica passa pela apresentação de trabalho para ganhar confiança na audiência e atrair mais anunciantes.
Para o Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. Tomás Timbana, o CSCS tem a responsabilidade de disciplinar o sector.
“Não basta realizar este tipo de eventos. O Conselho Superior de Comunicação Social tem de ser mais duro no que se refere ao cumprimento das regras sobre a imprensa”.
Por outro lado, ressalva Timbana “temos assistido os tribunais a serem usados para amedrontar jornalistas,” mas o importante é que sigam as regras e investiguem mais sobre os casos.