O Presidente Donald Trump aceitou na prática, ontem à noite, a sua derrota nas eleições presidenciais ao autorizar o governo federal a iniciar o processo de transição para a nova Administração.
Isso significa que o presidente eleito Joe Biden e os seus colaboradores terão agora acesso aos escritórios dos diferentes departamentos do governo federal e também a briefings confidenciais ou secretos.
Embora historicamente o processo de transição seja algo a que poucos prestam atenção este ano a decisão do Presidente Trump põe termo a um impasse de 16 dias causado pela recusa do presidente em aceitar a sua derrota nas presidenciais e equivale na pratica a uma capitulação face às crescentes pressões de importantes figuras ligadas ao Partido Republicano e ao mundo empresarial.
Cem directores de influentes companhias americanas dos ramos comercial e financeiro assinaram uma carta em que pediram à Administração Trump para reconhecer a vitória de Joe Biden nas presidenciais.
“Cada dia que um processo de transição ordeiro é atrasado a nossa democracia enfraquece aos olhos dos nossos cidadãos e o estatuto da nação no palco mundial diminui”, diz a carta que pediu que o Presidente-eleito tivesse de imediato acesso aos diferentes departamentos do governo federal como parte do normal processo de transição.
“Impedir recursos e informação vital para a próxima Administração coloca o público, a segurança e a saude do país em perigo”, diz a carta.
Por outro lado um grupo de peritos em questões de segurança do Partido Republicano pediu aos Republicanos no Congresso para admitirem a derrota e iniciarem de imediato o processo de transição.
Entre os mais de 100 assinantes desta carta estão Tom Ridge o antigo secretário de Segurança Interna durante a Presidência de George W Bush, o antigo director da CIA Michael Hayden e o antigo director Nacional de Inteligência John Negroponte.
Na carta eles apelam “aos dirigentes Republicanos – especialmente aqueles no Congresso- para exigirem publicamente que o Presidente Trump ponha termo ao seu ataque anti-democrático à integridade das eleições presidenciais”.
Arriscando-se ao isolamento dentro do seu próprio partido Trump aceitou iniciar o processo de transição “nos interesses do país” mas ao mesmo tempo prometeu continuar com acções em tribunal contra os resultados em diversos estados, algo que até agora não produziu quaisquer resultados.
Um conselheiro de Trump disse ao Washington Post que isto é a máxima concessão de derrota que o Presidente admite e nada mais. O senador Republicano Kevin Kramer disse ter havido muito exagero em acusar-se o Presidente de atacar a democracia ao não reconhecer os resultados das eleições.
“Não sei porque estamos todos ofendidos com um Presidente que está a escolher as suas opções legais em tribunal e não a encorajar distúrbios ou a queima de edifícios ou a agredir Democratas”, disse o senador Republicano Kevin Kramer para quem o que se tem passado “é apenas um processo legal” pelo que “todos se devem acalmar um pouco”.
“Sistemas legais, são processos que estão na nossa constituição, na nossas leis”, disse o senador para quem seguir esse processo é não só “apropriado como é uma obrigação para com os milhões de americanos que o Presidente Trump reflecte”.
“Uma vergonha nacional”
Um outro Republicano é o antigo governador do estado da Nova Jérsia Chris Christie que fez notar contudo que a campanha de Trump fez muitas acusações de fraude em conferências de imprensa mas em tribunal nenhuma dessas acusações tem sido provadas.
Essas acusações vão desde máquinas que estariam viciadas com apoio estrangeiro até mesmo acusações contra destacadas figuras de certos estados segundo Christie, o Presidente já teve "a oportunidade de ter acesso aos tribunais para apresentar provas de fraude e não o fez".
“Mas o que aconteceu até aqui para falar francamente (é que) a actuação da equipa judicial do Presidente tem sido uma vergonha nacional”, disse Christie para quem os advogados deTrump “alegam fraude fora do tribunal mas quando vão lá dentro não alegam fraude e não argumentam fraude”.
“Eu tenho sido um apoiante do Presidente. Votei por ele duas vezes mas eleições têm consequências e não podemos continuar a agir como se algo tivesse acontecido que não aconteceu”, afirmou o antigo governador Republicano.
“Há uma obrigação de se apresentar as provas. As provas não foram apresentadas e se não apresentam as provas tem que se concluir que as provas não existem. O pais é agora o que conta mais. Sou um Republicano, amo o meu partido mas o país tem que vir em primeiro lugar”, acrescentou Christie que foi um dos conselheiros de Trump durante a campanha eleitoral.
O Presidente Trump disse com efeito na sua declaração escrita ontem à noite que tinha aceite o processo de transição no interesse nacional.
Alguns conselheiros estarão agora a encorajar Trump a fazer um discurso relatando os sucessos da sua Presidência e em que sem conceder publicamente a derrota se compromete a respeitar a transição.