A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) completou 25 anos com um forte cunho político-diplomático, aliás o mote dado aquando da sua fundação.
Mesmo que um dos seus mais importantes promotores e entusiastas, o diplomata e antigo ministro da Cultura do Brasil, José Aparecido de Oliveira, tenha sempre defendido um forte cunho cultural e linguístico, de modo a que, como muitos têm defendido, a CPLP fosse uma comunidade de “povos”.
Em tempo de balanço, a VOA quis ouvir opiniões de pessoas conhecedoras da vida da CPLP na área cultural, tanto a nível das diversas manifestações como do seu papel, por exemplo, no campo da promoção da língua e a da literatura.
Na rubrica Artes, a VOA, Alvim Cossa, encenador e director do Centro de Teatro do Oprimido, em Maputo, de Moçambique, e Manuel Brito-Semedo, antropólogo e escritor cabo-verdiano, que foi director executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), de 2004 a 2006, foram convidados a abordar a dimensão cultural da CPLP e o que se espera ainda.
Cossa considera que “falta a humanização da cooperação para colocar os povos de língua portuguesa a dialogar, a partilhar experiências e sonhos, e a dar passos comuns rumos ao desenvolvimento”, porque, segundo ele, “temos uma ponderosa ferramenta para um espaço de crescimento junto, das artes e cultura que sirvam aos nossos povos e almas".
O encenador, cuja experiência de teatro que tem vindo a desenvolver tem origem no Brasil, admite que de certa forma a CPLP permitiu criar espaços, mas agora “precisa criar condicoes para que, por exemplo, os países africanos levem as suas produções à Europa, às Américas”.
IILP e o seu "pecado original”
Em 1989, antes da existência da CPLP, em São Luís do Maranhão, no Brasil, foi proposta a criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, sendo, na altura Presidente brasileiro o poeta José Sarnei.
Apenas em 2002, o IILP foi formamente criado, mas a sua integração na estrutura orgânica da comunidade só aconteceu depois, tendo essa missão sido entregue a Cabo Verde, mas sem recursos.
O antropólogo e escritor Manuel Brito-Semedo diz que, desta forma, o IILP “nasceu com um pecado original” que o marca até hoje.
Director-executivo do instituto de 2004 a 2006, Brito-Semedo lamenta que nunca a sua instalação tenha sido concluída e lembra tem funcionado “com muitas dificuldades”, sem quadros suficientes e pontualmente os Governos do Portugal e Brasil são chamados a “socorrer financeiramente” o IILP.
“A ideia inicial do IILP deve ser recuperada porque pode ser um instrumento para a promoção e difusão da língua portuguesa”, defende, mas recomenda que a CPLP defina “uma política para língua, cultura e educação”.
Em tempos em que se fala tanto da mobilidade de pessoas no seio da comunidade, Manuel Brito-Semedo lembra que “não temos mobilidade de bens culturais” e dá exemplo de quão custoso é produzir nos países africanos que, ao mesmo tempo, não conseguem chegar a outros mercados, como o brasileiro e o português.
“Uma comunidade que começou com uma base de língua e cultura, isto esboroou-se”, lamenta Manuel Brito-Semedo que, em jeito de recomendações, diz que a CPLP deve promover “feiras do livro, festivais de cinema e prémios literários”, que revelaração a dimensão cultura e linguística dessa comunidade de mais de 270 milhões de pessoas no mundo.
A CPLP foi criada em 1996 e é integrada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
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