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CPJ: "Contínua impunidade" de ataques a jornalistas" dá a "bandidos armados licença" para actuar


Ângela Quintal, coordenadora do Comité de Protecção de Jornalistas (CPJ) para África
Ângela Quintal, coordenadora do Comité de Protecção de Jornalistas (CPJ) para África

Apesar de pedir uma invetigação minuciosa ao ataque à Rádio Capital FM, em Bissau, o Comité de Protecção de Jornalistas admite que não haverá consequências

O Comité de Protecção dos Jornalistas (CPJ) insta as autoridades da Guiné-Bissau a investigarem minuciosamente o mais recente ataque à emissora Radio Capital FM, garantir a segurança de seus funcionários e levar os responsáveis à justiça.

O posicionamento daquela organização não governamental internacional com sede em Nova Iorque foi assumido nesta terça-feira, 8, um dia depois da emissora privada em Bissau ter sido destruída por homens armados, num ataque que deixou oito pessoas feridas, das quais uma jornalista está em estado grave.

“As autoridades na Guiné-Bissau devem garantir que desta vez, os responsáveis por atacar a Rádio Capital FM e aterrorizar os seus jornalistas e trabalhadores da media sejam presos e responsabilizados”, diz a coordenadora do programa África do CPJ, em nota.

Angela Quintal acrescenta que “a contínua impunidade de ataques a jornalistas na Guiné-Bissau deu a bandidos armados, mais uma vez, licença para destruir equipamentos e forçar o desligamento de uma emissora de uma rádio que critica o Governo do Presidente Umaro Sissoco Embaló, acreditando que não haverá consequências”.

Agressores discutiram se matavam ou não os trabalhadores

O CPJ, que falou com o director da Rádio Capital FM, Lassana Cassamá, e o seu adjunto Sabino Santos, cita que “os agressores, alguns em uniformes militares e outros em trajes civis, atiraram e destruíram equipamentos de transmissão em todo o escritório”.

“Os homens discutiram abertamente se deveriam matar os funcionários da estação, mas um dos homens ordenou que ninguém fosse ferido, disseram Santos e Cassamá”, continua a nota, que refere ainda o facto de o agente da Polícia de Ordem Pública que fazia a segurança da emissora ter fugido “assim que o ataque começou”.

O assistente administrativo Binghate Martins estava na emissora durante a operação e disse ao CPJ em entrevista por telefone que os agressores o forçaram a deitar no chão, dispararam tiros perto dele e o espancaram nas costas com as armas.

O CPJ lembra que a estação costuma fazer reportagens críticas sobre o Governo do Presidente Umaro Sissoco Embaló e naquela manhã organizou um programa em que os ouvintes comentaram por telefone sobre a tentativa de golpe do passado 1 de Fevereiro.

A Polícia Judiciária esteve no lugar depois do ataque e lacrou as instalações.

A vice-diretora da corporação Cornélia Viera, disse ao CPJ em entrevista por telefone “que não sabe quando as instalações seriam deslacradas, pois isso dependeria de quando a investigação fosse concluída” e, segundo a mesma fonte, “ela disse que não poderia comentar mais porque o caso está sob investigação”.

Recorde-se que este é o segundo ataque armado contra a Rádio Capital FM.

Jornalista em estado grave

A 26 de Julho de 2021, homens armados destruíram os estúdios e o Governo abriu um inquérito, mas até agora se desconhece a sua conclusão e ninguém foi responsabilizado.

Dos oito feridos, sete estão bem e recebem tratamento em casa, mas a jornalista Maimuna Bari, que tem uma suspeita de contusão na coluna, tem de ser evacuada para o exterior para receber tratamento.

Todos ficaram feridos quando tentavam fugir do tiroteio.

"Acto isolado", Governo

O Ministério do Interior, através do comissário-adjunto da Polícia de Ordem Pública, Salvador Soares, classificou o ataque de “acto isolado”.

O Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social, através da sua presidente Indira Correia Baldé, pediu hoje ajuda à comunidade internacional para que “continue a apoiar a Guiné-Bissau e os profissionais de comunicação social", e considerou que o ataque é uma ameaça clara ao exercício livre e independente do jornalismo na Guiné-Bissau.

Também a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) condenou formalmente o ataque, pediu “a abertura de um competente inquérito transparente e conclusivo” e exigiu a “demissão imediata do ministro do Interior pela manifesta incapacidade de garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, dando azo a instalação de um clima de terror e caos sem precedentes, suscetível de conduzir o país ao precipício”.

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