O Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) condena a decisão das autoridades angolanas de prossegoir o julgamento dos jornalistas Rafael Marques de Morais, e Mariano Brás, mesmo com a ausência, pela segunda vez, do queixoso, o antigo procurador geral da República, João Maria de Sousa.
A organização de defesa dos jornalistas, com sede em Nova Iorque, pede às autoridades angolanas para anularem o julgamento e critica o facto de haver dois pesos e duas medidas na justiça quando o antigo procurador recusa ir a tribunal.
Em conversa com a Voz da América, a coordenadora do Programa para África do CPJ, Angela Quintal, começa por lembrar que o antigo procurador-geral da República estava em funções quando começou o processo e lamenta que o seu substituto Hélder Pitra Grós tenha avançado com o caso.
“É bizarro e pedimos às autoridades que, como avançaram com o caso, pelo menos, os jornalistas tenham acesso a um julgamento justo”, sustenta Quintal, que pede que todos sejam tratados da mesma forma.
“Todos devem ser iguais perante a lei, mas neste caso, infelizmente, vemos que alguns são mais iguais do que outros com o anterior procurador geral a ter um tratamento privilegiado”, lamenta Quintal.
A coordenadora do Programa para África do CPJ acrescenta que este julgamento vai em sentido contrário ao discurso do Presidente angolano João Lourenço de lutar contra a corrupção.
“Para quem quer lutar contra a corrupção, o Governo não pode perseguir os jornalistas que denunciam a corrupção”, defende Angela Quintal, concluindo que o julgamento “questiona se o Estado tem alguma coisa a esconder".
O antigo Procurador Geral da República de Angola (PGR) João Maria de Sousa voltou a faltar ao julgamento dos jornalistas Rafael Marques e Mariano Brás por ele acusados de injúria e ultraje a um órgão de soberania, na segunda-feira, 16, depois de ter feito o mesmo na primeira audiência.
Marques está a ser julgado devido a um artigo publicado em Outubro de 2016, no portal Maka Angola, em que levanta suspeitas de corrupção contra o então procurador-geral da República (PGR), João Maria de Sousa.
Brás também foi levado a tribunal por publicar o artigo de Marques no jornal O Crime.