O coronavírus está a ter um impacto desastroso no tecido empresarial de Moçambique, país onde não existe almofada para minimizar os efeitos duma pandemia desta dimensão, porque, segundo analistas, o Governo, a braços com o escândalo das dívidas ocultas, não faz reservas há bastante tempo.
Alguns empresários consideram que, ao contrário do que aconteceu na altura dos ciclones Idai e Kenneth, os impactos do coronavírus ainda serão sentidos durante algum tempo, e que aquilo que se perder, vai ser difícil recuperar.
"Julgo que desta vez vai ser mais a sério, e creio que não haverá uma recuperação, de certa forma rápida, como aconteceu depois do ciclone Idai na zona centro do país, onde ao fim de um ano, a economia já tinha começado a recuperar", considera o empresário Ernesto Valinde.
Porto da Beira sem cargas
Na prática, quase não há carga proveniente da China para Moçambique e outros países da região, e isso afecta, sobremaneira, as empresas de agenciamento de cargas no porto da Beira, por exemplo, que também fica sem poder manusear mercadorias da região, por causa da pandemia.
"Não há medida alguma de apoio a pequenos empresários deste país. As anunciadas pelo Banco de Moçambique vão beneficiar as grandes empresas, e se a situação não muda, vou fechar a empresa", afirma o empresário Francisco Germano, operador de uma unidade hoteleira nos arredores de Maputo.
Entretanto, economistas antevêm também uma situação bastante complicada, sobretudo porque, nos últimos cinco anos, a economia moçambicana quase estagnou, sendo que algum crescimento verificado foi à volta dos megaprojetos.
"Com este surto, a situação complica-se ainda mais, porque temos o problema de redução da procura externa para os exportadores de carvão, algodão e outros produtos. Esta situação afecta também o sector do turismo", realça o economista Constantino Marrengula.
Medidas do Banco de Moçambique
O banco central prometeu injetar mais moeda externa, uma vez que era previsível a possibilidade da depreciação da taxa de câmbio, que afecta, pelo menos, os custos de importação de matérias-primas e outros produtos.
"Vamos ver qual vai ser o efeito dessa medida, até porque nos últimos tempos, a taxa de câmbios vinha mostrando tendência de se depreciar”, considera Constantino Marrengula".
Para aquele economista, se a problemática do coronavírus piorar, " a situação da economia complica-se ainda mais porque há quebra de produção e da procura ao mesmo tempo, o que significa que os empresários ficam com custos fixos por pagar, mas não têm como gerar dinheiro".
"Provavelmente, várias empresas vão fechar, os pequenos importadores não vão entrar na África do Sul. Operadores de turismo estão a ressentir-se da crise e já falam de fechar as portas e mandar os trabalhadores para casa", afirmou ainda aquele economista.
Turismo e pequenos importadores afetados
Por seu turno, a economista Celeste Banze mostra-se preocupada com a actual situação derivada da pandemia e das medidas tomadas pelo Governo.
"Eu penso que as medidas do Governo deviam ser mais abrangentes no sentido de beneficiar não somente o tecido empresarial mas a população em geral", diz
Banze acrescenta que "muitos países estão a fazer alguns cortes nas taxas de energia e água, e eu penso que o Governo de Moçambique devia também tomar este tipo de medidas para beneficiar todo o povo moçambicano".
O economista Gervásio Trindade é também da opinião de o Governo deve tomar medidas para ajudar a revitalizar e construir o futuro das empresas e dos cidadãos quando o vírus passar, realçando ter conhecimento de que muitas pequenas e médidas empresas já estão a pensar fechar o negócio e abrir falência.