O Governo angolano aprovou um plano de apoio a famílias vulneráveis e empresas num valor de quase 500 milhões de dólares, mas em muitos lugares os cidadãos dizem não ter sido beneficiados, apesar de o país caminhar para 60 dias de estado de emergência.
Num descampado no bairro Kassaka Dois, no Calumbo, município de Viana, em Luanda, cerca de 500 famílias, que vivem em situação precária desde 2017, queixam-se de não terem sido contempladas pelo Executivo.
A administração da Comuna de Calumbo reconhece não ter capacidade de resposta para todos.
Em conversa com a VOA, D. Anastácia, moradora do bairro Kassaka Dois há mais de três anos, diz ter recebido ordens para ficar em casa que iria ser beneficiada.
“Só vemos pela televisão, aqui nunca vimos nada, mas obrigam as pessoas a ficar em casa, mas vamos comer o quê? Será que nós não somos conhecidos pelo Governo? Outros recebem bens e nós aqui não, por quê?”, lamenta.
Evitar a contaminação pela doença é outro problema, como diz a D. Felicidade, que tem dificuldades em adquirir meios de proteção, como mascara, sabão, álcool em gel e sem água.
"Fomos atiradas aqui como se fóssemos cabritos, disseram-nos que era por uma semana, até hoje não temos nada, nem comida, com esta doença então, as nossas casas são de plástico, não temos segurança nenhuma, não há como nos prevenirmos da Covid-19", denuncia em declarações à VOA.
Em cada cabana podem morar até 20 pessoas, por isso “não há formas de manter o distanciamento físico aqui”, alerta Aberto Daniel, que há quatro anos vive no local.
“Se aparecer aqui alguém doente, esse bairro todo desaparece, não há água, não temos sabão, não temos álcool", diz Daniel.
Os moradores apelam ao Presidente da República e administradores por ajuda, entretanto, a administração da Comuna do Calumbo reconhece não ter capacidade de resposta para todos.
"Na verdade, não temos capacidade em termos de cestas básicas para cobrir o bairro todo, para um bairro como Kassaka Dois precisamos de pelo menos duas mil cestas básicas e esta capacidade ainda não temos", afirma Bunga Filipe, administrador de Calumbo, quem revela que a situação está a ser analisada pela Admnistração de Viana.