Vários médicos criticaram as últimas medidas do governo para tentar travar uma segunda onda de infecções do coronavírus ser entre outras acusações uma “aberração”.
Os críticos fazem notar que a maioria da população angolana não tem os meios económicos para poder respeitar as restrições.
O Governo angolano reviu esta Quarta-feira as medidas de prevenção contra a covid-19, face ao aumento dos casos nas últimas semanas, com destaque para o agravamento das sanções, redução de horários e limitação da capacidade dos espaços para evitar aglomerações e a manutenção da cerca sanitária à capital do país- Luanda.
As medidas foram reveladas pelo ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão Almeida, depois que Angola notificou 226 novos casos de Covid-19, o segundo valor mais elevado desde Outubro de 2020.
A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta disse, na altura que o país se encontra “em plena segunda vaga” da covid-19, agravada pelas novas estirpes que estão a afectar famílias inteiras, contando-se atualmente 523 casos das variantes sul-africana e inglesa.
Especialistas ouvidos pela VOA consideram “uma aberração” impor novas restrições num país com uma economia já bastante combalida .
Acusam o governo de, alegadamente, estar a investir mais na Covid-19 em detrimento de outras doenças endémicas no país ao mesmo tempo que admitem ser muito difícil o acatamento destas medidas por parte da população desprovida de comida, água e dinheiro para cumprirem as medidas de bio-segurança.
O médico pediatra, Luís Bernardino diz haver um certo “alarmismo” nas declarações da ministra da sobre os níveis de infecção da covid-19 .
“São medidas de poder irracional que está apenas a prejudicar o país e as pessoas”, afirmou.
Por seu turno, o Dr. Maurilio Luyele, especialista em saúde pública, diz que duvida da eficácia das medidas anunciadas alegando que “ as pessoas estão completamente depauperadas pelo que não vão acatar medidas mais restritivas no âmbito económico”.
O também deputado e “ministro da Saúde” do governo de sombra da UNITA, afirma ser “ um contra-senso” adoptarem-se medidas restritivas sem que sejam acompanhadas de“outras medidas de estímulo à economia”.
O médico Rosalon Pedro disse ser necessário que as autoridades sejam mais claras junto do público sobre o porquê das medidas.
“As autoridades sanitárias têm todo direito (de adoptar essas medidas) mas têm que conversar com as populações sobre o que as leva a adoptar a novas restrições”, disse.
Ao anunciar as novas medidas a ministra da Saúde comparou o aumento de casos com o “pico” da doença, em outubro de 2020, “que foi um dos piores cenários”, e está a ter uma aceleração mais rápida.
“Para agravar o cenário temos circulação em Luanda da estirpe sul-africana e da estirpe inglesa”, variante que a responsável da Saúde disse estar a ter “um crescimento galopante afetando famílias inteiras sem distinção de idade e sexo”, com efeitos em jovens, adolescentes crianças, muitos deles sintomáticos.
Os óbitos, realçou, são também em número considerável e estão a atingir pessoas jovens.
“Nós já temos pessoas jovens a morrer”, alertou a governante, salientando que as estirpes são de grande transmissibilidade e dando como exemplo as testagens feitas nos últimos três dias e que revelaram a estirpe inglesa em 260 casos.
Segundo a ministra, nesta altura já se regista “um total de 523 casos, olhando para a estirpe inglesa e estirpe sul- africana”, indicando que no cenário atual há maior possibilidade de ter mais membros da mesma família infectados e também mais óbitos.
No novo decreto presidencial, que entra em vigor esta sexta-feira, será reforçada a obrigatoriedade do uso de máscara na via pública, e em todos os espaços fechados (mercados, igrejas, venda ambulante, escolas, transportes coletivos, entre outros).
Adão de Almeida afirmou que “infelizmente, nos últimos tempos começa a haver tendência para não utilização” do equipamento de proteção individual, sendo reforçada a aplicação de multas que irão variar entre 15.000 e 20.000 kwanzas, bem como o dever cívico de recolhimento entre as 21:00 e as 05:00.
A cerca sanitária nacional mantém-se, bem como a actual frequência dos voos internacionais que contempla dois voos diretos por semana para Portugal (através das companhias aéreas TAAG e TAP).
Mantém-se também a cerca sanitária em Luanda, com as entradas e saídas para outras províncias condicionadas à realização de um teste, sendo os incumpridores penalizados com uma multa que pode ir de 250 a 350 mil kwanzas (314 a 440 euros).
As regras sobre a quarentena mantêm-se, sendo a violação das regras punidas com multa que pode ir de 250 a 350 mil kwanzas, agravada para quem violar o isolamento domiciliar, que pode ir de 350 a 450 mil kwanzas (440 a 566 euros).
A força de trabalho nos serviços públicos é reduzida para 50%, e nas empresas para 75%, sendo recomendada a adopção de regimes de turno ou teletrabalho.
O comércio passa a encerrar às 20:00, reduzindo para 75% a força de trabalho.
Restaurantes e similares vão funcionar até às 20:00 com o serviço de ‘take away’ a prolongar-se até às 22:00, sendo “expressamente proibida a instalação de pistas de dança”.
As multas podem ir de 350 a 450 mil kwanzas e levar ao encerramento temporário dos espaços por um período de 30 a 90 dias.
Continuam também interditas festas em espaços não domiciliares, podendo as medidas sancionatórias em caso de incumprimento ir da aplicação de multas de 450 a 500 mil kwanzas (566 a 629 euros) ao proprietário que disponibiliza o salão para festas de casamento à apreensão de equipamentos de som e outros que se encontrem no local.
Em casa são permitidos encontros com um máximo de 15 pessoas.
As atividades lectivas mantêm-se sem alteração, a nível de competições e treinos desportivos federados, ficando, no entanto, interdita a presença de espectadores com vista a diminuir as aglomerações.
A prática desportiva individual e de lazer passa a estar sujeita a dois períodos: de manhã, entre as 05:30 e as 07:30 e no final do dia das 17:30 às 19:30, em grupos não superiores a cinco pessoas.
O decreto apresenta também maiores limitações para reuniões, eventos e atividade religiosas, passando a ser necessário fazer uma notificação prévia às autoridades locais, se forem realizadas em espaços fechados e em número superior a 100 pessoas. Em espaços abertos, os participantes terão de assegurar um distanciamento de mais de dois metros.
Há também medidas específicas para atividades políticas e cívicas de caráter massivo.
O país soma 26.168 casos de covid-19, com 591 óbitos, 23.584 doentes recuperados e 1.993 casos activos.