O presidente da UNITA, maior partido da oposição em Angola, chamou a atenção para o perigo de monopólios poderem destruir no Corredor do Lobito e mostrou reservas quanto à nova Administração americana em relação àquela infraestrutura que, segundo ele, está longe do que foi no passado.
Ao apresentar o "estado da economia" nesta terça-feira, 21, em Luanda, Adalberto Costa Júnior apelou à união dos angolanos porque o país é rico e tem condições de se desenvolver.
"Temos que trabalhar, arregaçar as mangas e deitar abaixo os muros partidários que nos iludem muitas vezes e que nos separam a nós próprios", defendeu.
Questionado sobre o Corredor de Lobito, que ele afirmou chamar-se "Caminhos-de-Ferro de Benguela", Costa Júnior disse esperar que o perigo de os monopólios não destruam a infraestrutura ferroviária que liga Angola à República Democrática do Congo e a outros países africanos.
"Esta é a perspetiva, os monopólios. E tudo o resto, cuidado também com a dialética que se traz para aqui dos americanos. Nós estamos a ser simplesmente ponto de passagem para minérios raros para a América tirados da República Democrática do Congo", advertiu o líder da Unita que apelou à união dos angolanos Angola, "um país extremamente rico, de uma diversidade excecional que aumenta a sua riqueza".
Monopólios na posse de Trump, líderes africanos ausentes
Os Estados Unidos constituem o principal parceiro do Governo angolano no Corredor do Lobito, que, inclusive, levou o anterior Presidente Joe Biden a visitar Angola, em dezembro, e reforçar o empenho de Washington no projeto.
Ao pronunciar-se sobre a posse do Presidente Donald Trump, Adalberto Costa Júnior destacou o facto de os monopólios terem estado lá, ao contrário de líderes africanos.
"Espero que tenham lido o discurso de Trump de ontem ou tenham ouvido. É complicado, deve ter deixado muita gente com dor de barriga", afirmou o presidente da Unita, para quem Trump "está a anular todas as deliberações do anterior, está a vender uma América de sonhos, está a fechar os interesses americanos".
"Veja o discurso do Trump: nós, nós, nós, nós e nós. É por causa disso que nós angolanos devemos saber unirmo-nos e defender o interesse nacional", sulbinhou Costa Júnior.
O líder da oposição angolana concluiu dizendo que "não foi convidado nenhum líder africano, há representantes dos monopólios que estiveram lá na cerimónia".
O imbondeiro chamado de partido-Estado
No balanço sobre o estado da economia, o presidente da UNITA disse que Angola "está amarrada a um imbondeiro chamado de partido-Estado, que se alimenta excessivamente dele, e não pretende soltá-lo, por causa da sobrevivência política”.
Adalberto Costa Júnior apontou que "as dependências do petróleo são de risco e nós vimos aqui algo surpreendente ao longo de todos os ciclos" e que "o crescimento de acumulação de receita foi sempre equivalente ao crescimento da dívida.
No longo balanço feito à imprensa, apontou que "Angola podia ter um fundo soberano de centenas de biliões de dólares, para alavancar todas as transformações que o país precisa, mas também para dar segurança às gerações atuais e futuras e tudo isso desapareceu pela inexistência de instituições", o que não acontece.
"Foi neste contexto de extrema fraqueza institucional, de ausência de separação de poderes, de ausência de liberdade de imprensa e de expressão, de insegurança física e jurídica, que os angolanos hoje se interrogam sobre o destino dado a 544 mil milhões de dólares m receitas fiscais [essencialmente petrolíferas] entre 2002 e 2022", continuou Costa Júnior que chamou de "artificial" o Orçamento Geral do Estado de 2025.
O presidente da UNITA afirmou que o seu partido vai preparar a alternativa para 2025.
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