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Corpos abandonados no Hospital Geral de Benguela são sepultados em condições deploráveis 


Viatura do SIC chega à morgue com corpo encontrado na rua, Hospital Geral de Benguela, Angola
Viatura do SIC chega à morgue com corpo encontrado na rua, Hospital Geral de Benguela, Angola

Lonas e sacos são alternativa à falta de urnas. Especialistas exigem mais do Estado e pedem respeito pelos mortos 

Corpos abandonados na morgue do Hospital Geral de Benguela (HGB), em Angola, numa média superior a 15 por mês, vão a enterrar sem o devido tratamento, em lonas e sacos, num único tractor, indicam depoimentos recolhidos pela VOA após 44 funerais administrativos na última semana.

Segundo dados oficiais, aumentam os casos de abandono de cadáveres, na sua maioria associados à pobreza entre as famílias, a mesma razão apontada para a enchente nos serviços pediátricos.

As urnas fornecidas pelas autoridades são insuficientes para tantos corpos votados ao abandono, conforme a descrição de cidadãos ouvidos pela VOA, ex-funcionários e vizinhos da morgue.

Sacos e lonas são a alternativa, com cadáveres sem vestuário e um tratamento adequado após dois meses de espera por familiares.

“As condições , ‘epa’.. dá para remediar, um só tractor leva as caixas e os sacos. Também chegam corpos de fora, o Serviço de Investigação Criminal é que traz. Já não há preparação , nem banhos, nem roupa”, refere uma testemunha.

A par desta realidade, o activista cívico João Guerra, evangelista da Igreja Catolica, lembra que o cenário acontece em fase de crise na pediatria, já com várias mortes por malária, má nutrição e diarreia, como tem avançado a VOA.

“A malária está aí com força, os gestores acomodam-se. Dizer que há medicamento ... e as pessoas morrem como morrem, são abandonadas na casa mortuária”, refere o evangelista, acrescentando que “nestes funerais as pessoas são tipo pedras, postas no tractor, nem parece que temos Governo, petróleo e diamantes”.

Por seu lado, o sociólogo Vitorino Roque considera que o Estado deve fazer mais, até em obediência ao significado dos mortos nas sociedades africanas.

“Para além da disfunção das famílias, pensamos que o Estado comete também falhas gravosas neste domínio. Devia haver uma intervenção mais digna, em obediência a esta instituição que se julga mesmo depois de partir para outra dimensão da vida têm interferência nas nossas vidas, é assim em África”, defende Roque.

Sobre este assunto, não foi possível obter a versão da direcção do maior hospital da província, que alertou já, por intermédio do seu administrador, Feliciano Chissola, para o aumento de casos de abandono de corpos.

Os funerais administrativos são realizados no cemitério de Catenguela, a 60 quilómetros da cidade de Benguela.

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