São 20h13 em Macau, em Washington DC ainda é o início do dia, o relógio marca 7h13 da manhã, quando Miguel Duarte atende o telefone do outro lado do mundo.
Em Macau, por esta altura, as ruas deveriam estar animadas, os restaurantes a abarrotar e os espíritos festivos. Mas o Ano Novo Lunar foi mal recebido por um vírus que a todos deixa apreensivos.
"Supostamente, Macau nesta altura estaria cheia, estaria com muita gente. Este ano, com tudo isso que aconteceu, Macau está deserta", começa por dizer Miguel Duarte, professor do ensino primário, na Escola Portuguesa de Macau (EPM).
O coronavírus chegou numa época do ano em que as escolas na China e em todos os territórios chineses cumprem o mesmo calendário e fazem uma pausa.
"O Ano Novo Lunar é tão importante como é o Natal ou Ano Novo" ocidentais, explica Mee Ling Hu, uma jovem coordenadora de projectos que vive em Pequim.
Em Macau, Miguel Duarte diz que a pausa lectiva vai prolongar-se pelo menos até 10 de fevereiro e que se for necessário as escolas terão que recorrer ao ensino à distância.
O coronavírus veio cancelar o Ano Novo, os concertos e grandes eventos habituais já não vão ser realizados, disse Miguel Duarte, porque uma das recomendações é evitar grandes multidões, além do uso de máscaras, que o governo central de Macau garante a todos os residentes do território.
Arcas cheias, prateleiras vazias
"Ainda hoje estava a falar com um amigo que é Chef num restaurante português que me disse 'epah nós fizemos um abastecimento enorme para as arcas' à espera que fossem fazer um excelente negócio, o que é certo é que não têm vendido nada, porque não há pessoas", conta Miguel Duarte.
Mas se a clientela para os restaurantes é pouca ou nenhuma, do mesmo não se podem queixar os supermercados ou as farmácias, que por sua vez não conseguem responder à demanda.
Nos últimos dois dias, Mee Ling Hu tem tentado comprar máscaras em Pequim, mas sem muita sorte: "As ruas estão vazias de facto, vês algumas pessoas, talvez a passear o cão, algumas lojas e supermercados estão abertos, mas a maior parte ou tem as prateleiras vazias ou tem dificuldades em repor produtos como detergentes ou desinfectantes, todas as coisas que precisas para manteres tudo super limpo. Para partilhar a minha experiência pessoal, anteontem (26 de janeiro) saí para comprar mais máscaras e tentei seis farmácias e três grandes supermercados e não consegui encontrar em nenhum".
O receio do desconhecido
"As pessoas estão apreensivas" Miguel Duarte continua, justificando ser normal por se tratar de um vírus do qual se sabe pouco. O professor da EPM, que já abasteceu a sua despensa para o caso de esta situação se prolongar, diz também que há 6 ou 7 casos confirmados de coronavírus em Macau.
Com a voz visivelmente triste, Mee Ling Hu lamenta não ter conseguido sair de Pequim para ir passar o Ano Novo com a sua avó de mais de 100 anos. A avó de Mee vive em Zhejiang, uma das províncias mais afectadas pelo coronavírus.
"A minha irmã disse-me para cancelar a viagem, que não podíamos pôr em risco a nossa saúde ou da avó".
Mee Ling diz não ser uma pessoa dada ao pânico: "Acho que entrar em pânico não ajuda ninguém nesta situação (...) mas hoje e ontem foi um desafio não entrar em stress e não sentir o peso das notícias e o quão rápido o vírus se está a propagar".
Mee Ling Hu confirma que as pessoas estão a ficar assustadas, mas tanto ela quanto Miguel Duarte dizem que o facto de haver informação por parte das autoridades ajuda a manter a calma.
Os números mais recentes do coronavírus na China dão conta de 4.632 casos confirmados, 6.973 casos suspeitos, 68 casos curados e 106 mortos.
O vírus já chegou a outros países da Ásia e fora do continente asiático, como Estados Unidos, Austrália, França, Alemanha e Canadá.