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Contradições no combate ao turismo sexual na Copa


Vanessa tem 13 anos e foi tirada das ruas pela polícia em Fortaleza.
Vanessa tem 13 anos e foi tirada das ruas pela polícia em Fortaleza.

Maria Aparecida Vieira, presidente de uma associação de prostitutas reclama que as campanhas contra a exploração sexual visam impedir que as prostitutas trabalhem no evento.

O país que sempre vendeu a imagem da sensualidade no exterior vive contradições para impedir que o turismo sexual ameace, principalmente, menores de idade. O temor cresce no contexto da Copa do Mundo 2014, que começa no Brasil no dia 12 de junho.

Com o objectivo de prevenir o abuso sexual, sobretudo, contra crianças e adolescentes foram lançadas campanhas nacionais e estaduais para enfrentar o problema, com destaque para as cidades que vão sediar jogos.
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Dados da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal mostram que, no ano passado, foram registrados 33 mil casos de exploração sexual de crianças e adolescentes.

Diante dos números já assustadores, os coordenadores das campanhas lembram que eventos, como a Copa, atraem a atenção de milhares de turistas brasileiros e estrangeiros, o que exige adoção de estratégias mais contundentes para proteger crianças e adolescentes.

Gláucia Brandão, que coordena as acções para impedir a exploração sexual durante a Copa, em Belo Horizonte, conta que cada cidade sede está envolvida nessas mobilizações. "Por causa do estigma que o Brasil tem da questão da exploração sexual. Então, nós estamos nos organizando juntamente com o Estado, a União, o municípios e movimentos sociais para criarmos uma grande rede de proteção," explica.

"O Brasil entende que a exploração sexual de criança e adolescente é crime. Nós temos o Disque 100, o 0800 para que em qualquer emergência a pessoa possa ligar para que a gente possa fazer o encaminhamento e dar essa proteção legal", alerta.

Gláucia detalha como vai funcionar a frente para combater o problema nos dias do evento. "Um plantão integrado que vai funcionar presencialmente com os conselhos tutelares e defensoria pública localmente. A promotoria, o juizado, a delegacia da infância estarão organizados em plantão por telefone para que possamos fazer as orientações e o direcionamento dessas crianças no período da Copa", afirma.

Gatas da Copa

Mas, a contradição entre a divulgação do turismo sexual e as campanhas contra exploração sexual fica explicita nesse período de Copa do Mundo no Brasil. Antes mesmo do mundial, a chegada ao comercio de camisa da marca Adidas com apelo sexual, os concursos de "Gatas da Copa" levantam debates acalorados em torno do assunto.

Além disso, as divulgações de hotéis, empresas de turismo, entre outros, usando como apelo as mulheres brasileiras expondo os seus corpos, passam a imagem de uma institucionalização desse tipo de turismo no Brasil.

O coordenador do programa Turismo Sustentável e Infância do ministério brasileiro do Turismo, Adelino Neto, garante que o governo não compactua com o turismo sexual. "A questão do Turismo Sexual não é reconhecida pelo ministério com esse nome. O que existe, na verdade, são turistas que se deslocam para o país, em buscam destinos conhecidos vendidos no mundo. Isso sem dúvida pode trazer pessoas com más intenções, pessoas que buscam denegar direitos e não é isso que o Brasil quer".

Mas, o representante do ministério admite que o turismo sexual é uma realidade no Brasil. "Não há que se negar isso pelos dados da UNICEF, Organização Mundial do Turismo, quem quer que seja, não há como negar isso. É um problema que, no Brasil inteiro, temos o registro de 2.930 municípios brasileiros que já tiveram o registro".

A polémica tem ainda um outro lado, o das profissionais do sexo. Maria Aparecida Vieira, presidente de uma associação de prostitutas, reclama que as campanhas contra a exploração sexual, o turismo sexual e até o tráfico humano querem, na verdade, impedir que as prostitutas trabalhem no evento.

Maria Aparecida não vê as profissionais do sexo como alvos em potencial de nenhum crime e que, portanto, precisem de campanhas de proteção. "A questão do preconceito é muito grande, a questão da Igreja. Há isso de envolver tudo, como se a prostituta fosse explorada sexualmente. Isso é um mito. Não é a realidade do movimento de prostitutas. Quanto pagam por esse mito. A verdade é essa: tráfico de prostitutas não existe. Todo mundo quando sai do Brasil sabe que vai para a prostituição".
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