A crise no sector da construção civil na província angolana de Benguela, responsável pela destruição de quase 20 mil empregos nos últimos anos, é associada a esquemas fraudulentos nos concursos públicos para a consignação de obras do Estado.
Um conhecido construtor, sem empreitada há mais de três anos, afirma que as obras eram entregues por conveniência do governador, enquanto o Sindicato da Construção e Habitação, preocupado com o cenário de ‘’paralisação’’, lamenta o fecho de 33 empresas.
Duas fábricas de cimento, com poucos trabalhadores, e três empresas chinesas são as referências do momento num mercado que contava com 47 firmas, maioritariamente locais.
À VOA, o secretário-geral do Sindicato da Construção e Habitação, Albano Caley, sublinha que o movimento de hoje é insuficiente para disfarçar a crise.
“É um vazio dentro da nossa província, que já conheceu um grande movimento. O balanço que fizemos indica que, após o encerramento dos projectos da Odebrecht, ficámos com quase 20 mil desempregados, por isso esperamos novas políticas. A juventude está abandonada, se as coisas continuarem assim na construção haverá dificuldade para jovens’’, lamenta Caley.
À espera que a lei da contratação pública seja cumprida, conforme exige o Presidente João Lourenço, que defende a realização de concursos, o construtor Osvaldo Santos critica a postura dos governadores que passaram por Benguela
“Quem distribuía as obras eram os governadores, não eram os concursos públicos, nem as Obras Públicas. Muita gente desistiu porque o Governo tinha relutância e não entregava as que melhor pendor tivesse. Pagámos impostos em três anos, sem obter nada. Há uma dívida que vem do tempo do general Armando da Cruz Neto e o seu sucessor não pagou. Nós empatámos o nosso dinheiro, ele pediu apoio à governação, mas até hoje… ‘’, diz Santos.
Com o Orçamento de Estado para 2018 em discussão, a VOA procurou conhecer os procedimentos para as empreitadas, mas não teve sucesso na tentativa de contacto com a responsável pela área Técnica e de Infra-estruturas do Governo, Jandira Ribeiro.
Fica o registo de declarações do governador provincial, Rui Falcão, quando prometeu medidas tendentes a acabar com o tráfico de influência, salientando a necessidade de rigor na gestão da coisa pública.