"MPLA - Revitalizar as Estruturas para Fortalecer o Partido", foi o lema do V CongressoExtraordinário do MPLA, realizado de 4 a 6 de Dezembro.
O conclave, segundo analistas, passou ao lado de temas sensíveis, tanto para formaçãopolítica, quanto para o país, tais como: As eleições autárquicas e a sucessão presidencial.
Estes foram assuntos reservados para o Congresso ordinário que terá lugar em 2016, antesdas eleçiões gerais.
Comentando o lema do Congresso extraordinário do MPLA, o Jurista Pedro Kaparakataconsiderou desnecessária a revitalização das bases do partido dos camaradas, já que, nocontexto sócio-político actual não se apuram as vontades dos cidadãos e cita como exemploa falta de discernimento de muitos membros do partido com maior representação noparlamento.
“Há meios próprios para converter a pessoa em militante contra sua vontade. E podemos
apresentar mil pessoas como sendo militantes e não são. E não há nada que vai contraria que
eles são militante, por que a ciência já permite apresentar estas pessoas independemente da
vontade. Já não se apura a vontade das pessoas”.
O Jurista e membro do Centro Populorium Progressio Domingos das Neves tem uma visão
diferente. O analista vê no lema central que orientou o conclave do MPLA uma questão
estratégica da força política que governa Angola, para fazer face aos novos desafios
políticos. Das Neves almeja que as recomendações saídas do Congresso deiam outro brilho,
não apenas ao partido, mas, à todo país.
“A temática que norteiou o memso congresso faz parte daquilo que são as estratégias do
memso partido. Como intenção é muito boa, esperamos que as conclusões das discussões
deiam outro fulgor naquilo que são as necessidades da nação”, aflorou.
Sobre as eleições autárquicas Domingos das Neves diz haver falta de vontade política para
sua realização. Das Neves reconhece a necessiade de se criar pressupostos para o efeito, mas
salienta que esta não é uma tarefa exclusiva do MPLA.
A abertura de uma agenda de discussão pública sobre o assunto, que aposterior seria levada
ao parlamento é fundamental, dai o Jurista chamar atenção para a questão pré-política e
partidária que o assunto requer.
“As eleições autárquicas são previstas pela constituição, eu acho que aquilo que flata são
vontad epolítica para materialização das mesmas. É verdade que é preciso criar pressupostos
de base para que isto aconteceça, mas estes não podem ser condicionados só pelo MPLA. As
eleições autárquicas dizem respeito á toda nação, não só aos partidos políticos”, explicou.
A sucessão presidencial é um dos temas fortes e sensíveis reservados para o Congresso
Ordinário de 2016. O assunto gera uma enorme expectativa tanto a nível interno do MPLA,
quanto dos vários foruns nacionais.
O analista Domingos das Neves julga que a manutenção da presidência do partido dos
camaradas não foi a motivação do V Congresso Extraordinário, por isso prefere aguardar
pelo conclave ordinário, já que a decisão cabe apenas ao próprio partido.
“É lógico que não se falou neste congresso porque não era essa a motivação do congresso.
A questão da manutenção da presidência do MPLA isto é uma questão que tem a ver
internamente com o MPLA”.
A este respeito Pedro Kaparakata entende a manutenção da liderança do MPLA está
dependente da vontade do seu presidente. O ex- professor da Universidade do Catambor, a
antiga Escola de Formação Política do MPLA, advinha uma crise interna na “força
dirigente da nação, que poderá afectar o país inteiro.
“ A saída vai depender unicamente da vontade dele, disse.
Para o Advogado “o momento já não está a favor do MPLA, relativamente a uma crise
interna. A crise será interna, no sentido de lutar para o lugar cimeiro do MPLA, e pode se
estender em todo país.”
Neste sentido, o Jurista entende que a maior preocupação em relação ao partido que sustenta
o Executivo não é a situação actual, mas o “cenário” pós José Eduardo dos Santos. Pedro
Kaparakata pensa que a nível do MPLA tudo “gravita” em torno do seu presidente, por
isso fala em culto à personalidade e à título de exemplo cita uma suposta exaltação durante o
V Congresso Extraordinário.
Com a concentração do poder político e partidário numa única o analista antevê um cenário
dramático e inglório.
“Se todo poder está concentrado numa única pessoa, poder político a nível partidário, esta
pessoas afastando-se há logo uma crise de sucessão a nível do MPLA e havendo crise a
nível do MPLA tem reflexos a nível de todo país. Logo, vamos viver uma situação
provavelmente dramática e não sabemos de facto qual vai ser a saída. Podemos ter um fim
inglório dentro de algum tempo. Isto não está para muito tempo, porque o homem está
limitado no tempo”, esclareceu.
Em alguns círculos da sociedade angolana cogita-se a indicação de José Filomeno dos
Santos como o sucessor de José Eduardo dos Santos. Olhares atentos dão conta de uma
projecção interna e discreta do filho do presidente do MPLA, que também é o actual gestor
do Fundo Soberano de Angola.
José Filomeno já é membro do Comité Central do MPLA, a estrutura forte do partido onde
são discutidos os assuntos mais candentes sobre a vida política do partido e, por outro lado
partem grande parte das orientações para os membros do Executivo.
Pedro Kaparakata pensa que a sucessão do presidente pelo seu filho pode ser um indicativo
de crise dentro da estrutura dos camaradas.
“Se virá ou não ser o filho do presidente isto é mais um indicativo que poderá haver uma
crise. Porque, a ser o filho do presidente, entre eles dentro da estrura do MPLA, pode haver
forças que não vão concordar com esta situação e a partir dai desencadeia-se a crise no
MPLA e vai ter reflexo em toda sociedade”.
Outro assunto pelo qual o MPLA não se debruçou neste congresso tem a ver com os actos
de intolerância política que envolvem os seus militantes. Uma situação que acontece um
pouco por todo país.
Kaparakata afirma que a intolerância não é problema do MPLA, enquanto partido, mas de
cada elemento que compõe a estrutura partidária, neste sentido aponta exemplos a nível das
outras forças políticas do país.
Na abertura do V Congresso Extraordinário, o presidente do MPLA, José Eduardo dos
Santos, manifestou preocupação em relação a necessidade de se reforçar o uso das novas
tecnologias de informação e comunicação no partido.
Dos Santos indicou que se vive actualmente uma nova era da democracia, designada de
“democracia directa electrónica”.
“Através destes meios, devemos esclarecer a opinião pública, aumentar e consolidar a
consciência dos que nos apoiam, conquistar os indecisos, e, acima de tudo, formar os nossos
militantes para que tenham mais e melhor participação na vida política nacional. Foram já
realizados investimentos na aquisição de meios e procedeu-se à recuperação do parque
informático do Partido em todos os Comités Provinciais e em alguns Comités Municipais”,
disse.
O inquérito sobre o bem-estar da População feito há alguns anos dava conta que apenas 0,3
porcento da população angolana tinha acesso á internet e o índice de pessoas que dispunham
de um computador era bastante baixo. A este respeito Domingos das Neves pensa que a ideia
do MPLA em investir nas novas tecnologias é positiva ao mesmo tempo que representa um
desafio para o país.
A julgar pelo baixo índice de pessoas instruídas e com capacidade de domínio das TICs,
seria primordial para o MPLA um investimento “na capcitação das pessoas” para garantir
a eficácia na exploração deste meio de comunicação.
Por seu turno Pedro Kaparakata diz que a questão do uso das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação, noutrora vista pelo MPLA como arma contra si, tem sido um
instrumento agora valorizado pelo partido dos camaradas.
Para os analistas, a organização interna do partido antes do congresso de 2016, que
perspectiva os desafios para as eleições gerais de 2017 foi uma medida acertada. Pedro
Kaparakata diz que esta organização faz parte de uma estratégia interna de avaliação do
partido.
Domingos das Neves espera que em 2016 o MPLA coloque na agenda do partido a questão
das eleições autárquicas, que na sua visão, dependem da boa vontade política.
Foi acertado o facto de procurar arrumar a casa internamente, ter isto como prioridade para
depois, acho que até num outro congresso, nos próximos tempos, creio que para além do
balanço que se vai fazer daquilo que foram as expectativas do congresso extraordinário, o
quinto, penso que poderão abordar também temáticas, pelo menos é o que eu espero, que
dizem respeito à nação, já que no ano seguir vamos ter eleições”.
O congresso, subordinado ao tema "MPLA - Revitalizar as Estruturas para Fortalecer o
Partido", teve como principais temas: Os desafios políticos eleitorais; O diagnóstico da vida
interna do partido e a sua inserção na sociedade.
Os trabalhos foram conduzidos por quatro comissões, que analisaram o relatório do Comité
Central do MPLA, a tese sobre o Melhoramento da Vida Interna e Maior Inserção na
Sociedade, a tese sobre o MPLA e os Desafios Eleitorais e de Ajustamentos Pontuais aos
Estatutos do Partido.