Comerciantes congoleses estão a monopolizar a compra de produtos agrícolas angolanos graças à sua capacidade de comprarem em grandes quantidades, mesmo que a preço mais baixo do mercado.
Isto porque para os camponeses a venda em grandes quantidades dá mais garantias do que a venda local.
A situação foi constatada pela VOA, há uma semana, na província do Bié, com cidadãos congoleses à espera de feijão e milho para distribuição na fronteira do Luvo, porta de entrada para o seu país.
No maior mercado informal, várias vendedoras dizem não a angolanos que tencionam comprar o feijão, ainda que a 900 Kwanzas o quilograma, porque há um compromisso com os congoleses.
Estes comerciantes podem pagar menos, entre 750 e 850 Kwanzas, mas levam acima de uma tonelada.
Só desta forma o pequeno produtor, que coloca os bens nas bancadas das vendedoras, consegue custear as suas operações no campo.
Teresa Cassova e Teresinha são mulheres desconfiadas, fazendo elas parte do grupo que rejeitou vender a quem pretendia apenas um ou outro quilo, mas confirmam a preferência pelos cidadãos do país vizinho
“Os congoleses compram muito, ‘bwe, bwe’ [linguagem popular para expressar quantidade] , levam para muitos sítios, Luanda, Saurimo e Zaire”, salienta Cassova, ao passo que Teresa confirma que “eles compram muito e vendem mais caro noutros sítios”.
O mesmo em relação ao milho, um cereal também nas contas dos comerciantes da República Democrática do Congo, como contou o munícipe Abel Caholo
Vim comprar milho, que também é muito procurado pelos congoleses. É muita quantidade, não vale a pena!”, exclama, antes de ter avançado que “neste momento é 350 o quilo mas as donas, com muita quantidade, podem baixar, porque o camponês manda para cá”.
Instalado no seu “quartel-general”, ali mesmo na praça, um comerciante da RDC, que não quis dizer o seu nome, destaca a qualidade do produto nacional e diz que o Luvo e Luanda, onde o quilo custa 1.200 Kwanzas, são os principais mercados
“Gostamos do feijão, por isso é que fazemos esse trabalho, e como negociantes nós levamos tudo que é produto do campo”, disse.
“ Tem de preparar o transporte daqui até Luanda, dali vai-se até ao Luvo, faz-se outra coisa”, explicou o comerciante.
O economista e agente comunitário Abílio Sanjaia diz que percebe o que está em causa, tendo em conta a lei da oferta e da procura, mas sublinha que os comerciantes ditam as regras por causa de dificuldades que exigem intervenção do Estado
A VOA produtor obter uma versão do Ministério da Agricultura e Florestas, tentando contactar o Gabinete do ministro António Francisco de Assis, mas sem sucesso.
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