Famílias que vivem em zonas de risco acusam o administrador do Lobito de parcialidade num conflito de terra que as opõe a uma funcionária da Administração Municipal.
Estas famílias, na sua maioria vítimas das últimas enxurradas, estão a ser impedidas de construir no bairro do Golf, nas imediações da futura refinaria, numa área que há 30 anos era explorada para fins agrícolas.
Hoje, já sem a fertilidade de outrora, a Administração diz que parte considerável daqueles terrenos pertence à sua funcionária, a cidadã Nádia Furtado, mas os populares contrariam o pelouro de Alberto Ngongo.
Os populares estranham a presença de Nádia Furtado numa área onde, em companhia dos seus pais e avós, praticavam a agricultura de subsistência.
Trata-se de um espaço plano, bem ao lado do condomínio habitacional da Sonangol, por isso bastante apetecível.
A construção de casas devia ter arrancado há já cinco anos, não fosse o atraso da Administração Municipal na resposta à solicitação tendente a transformar o terreno em zona habitacional.
A resposta há muito esperada não é satisfatória, daí a resistência dos populares quando agentes da Polícia destruíam o material de construção.
O clima de tensão provocou três detenções.
Um munícipe que pediu o anonimato disse à VOA, que “apareceu a Polícia militar, um deles, ao lado das famílias, manipulou a arma e dissemos-lhe que nos matasse porque não havia problemas”.
Um outro, também agastado, acrescentou que “não há aqui leões para o militar caçar, por isso não podia manipular a arma”.
Pior do que o conflito de terra, dizem as famílias, é a forma como o administrador municipal, Alberto Ngongo, se dirige a pessoas que lutam para fugir de uma tragédia idêntica à que provocou quase cem mortos no passado mês de Março
“Vocês aqui não falam nada, quem manda sou eu porque esta é a minha casa, saibam que o terreno é do Estado, haverá uma parte para a dona Nádia”, terá declarado Ngongo, citado por um cidadão, enquanto outro acrescentou que o administrador ameaçou “chamar a polícia”.
Contactado pela VOA, o administrador do Lobito diz que a concessão de 12 hectares à senhora Nádia representa o cumprimento de uma decisão do Tribunal.
Alberto Ngongo lembra que ela solicitou o espaço ao general Armando da Cruz, ex-governador, já depois de ter sido descartado para a agricultura
“As decisões dos tribunais não merecem qualquer contestação de nenhum órgão e eu quero fazer com que a senhora usufrua da sua parte, vou continuar a lotear para construir casas de forma ordeira’’, garantiu Ngongo, negando que tenha faltado respeito às pessoas, mas que apenas está “para cumprir a lei”.