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Condições em Gaza são "extremamente terríveis", diz UNRWA


Pessoas procuram objectos recuperáveis após um ataque israelita na área de al-Mawasi em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 29 de junho de 2024, no meio do conflito em curso entre Israel e o movimento militante palestiniano Hamas.
Pessoas procuram objectos recuperáveis após um ataque israelita na área de al-Mawasi em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 29 de junho de 2024, no meio do conflito em curso entre Israel e o movimento militante palestiniano Hamas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 10.000 pacientes precisam de ser evacuados de Gaza para receberem tratamento.

Os habitantes da Faixa de Gaza são obrigados a viver em edifícios bombardeados ou a acampar junto a pilhas gigantescas de lixo, afirmou uma porta-voz das Nações Unidas, denunciando as condições "insuportáveis" no território sitiado.

Louise Wateridge, da UNRWA, a agência da ONU que apoia os refugiados palestinianos, descreveu as condições de vida "extremamente terríveis" na Faixa de Gaza. "É realmente insuportável", disse aos jornalistas em Genebra, através de uma ligação por vídeo a partir do centro de Gaza.

Wateridge, que regressou na quarta-feira, 26, depois de quatro semanas fora do território, disse que mesmo durante esse tempo a situação se tinha "deteriorado significativamente". "Hoje, deve ser a pior de sempre. Não tenho dúvidas de que amanhã voltará a ser a pior de sempre", afirmou.

Após quase nove meses de guerra entre Israel e o Hamas, Wateridge afirmou que a Faixa de Gaza tinha sido "destruída", acrescentando ter ficado "chocada" quando regressou a Khan Yunis, no centro de Gaza. "Os edifícios são esqueletos, se é que existem. Tudo é entulho", disse ela.

"E, no entanto, as pessoas estão a viver lá novamente.", informa Louise Wateridge. "Não há água, não há saneamento, não há comida. E agora, as pessoas estão a viver de novo nestes edifícios que são cascas vazias", com lençóis a cobrir os espaços deixados pelas paredes rebentadas.

Sem casas de banho, "as pessoas estão a aliviar-se em qualquer lugar que possam".

Aumenta a miséria

A guerra em Gaza começou com o ataque do Hamas ao sul de Israel, a 7 de outubro, que causou a morte de 1195 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelitas.

A ofensiva de retaliação de Israel matou mais de 37.700 pessoas, também na sua maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlada pelo Hamas.

Wateridge afirmou que a dificuldade em trazer combustível para Gaza e distribuí-lo em segurança estava a ter um impacto na capacidade de distribuição da ajuda. "Sem o combustível, a resposta humanitária fica realmente paralisada", afirmou.

Wateridge falou a partir de uma casa de hóspedes, pois não havia combustível para sair e realizar missões.

A cerca de 150 metros de distância, disse, estava a acumular-se uma pilha de cerca de 100.000 toneladas de resíduos, com tendas improvisadas à sua volta. "A população está a viver no meio disto", disse. "Com o aumento das temperaturas, as condições de vida estão a piorar."

À espera da morte

Na quinta-feira, assistiu-se às primeiras evacuações médicas de Gaza para o vizinho Egipto desde que o posto fronteiriço de Rafah foi encerrado no início de maio, quando as forças israelitas tomaram o controlo do lado palestiniano.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 10.000 pacientes precisam de ser evacuados de Gaza para receberem tratamento.

Wateridge disse que um dos seus colegas da UNRWA, Abdullah, teve de esperar dois meses para ser evacuado em abril. Foi ferido num ataque e viu as suas pernas amputadas no final de fevereiro.

Desde então, passou semanas no devastado hospital Al Shifa - outrora o maior complexo médico de Gaza - quando este estava sob cerco. E passou dois meses à espera numa tenda médica, "alguns dias à espera da morte", disse ela. "Várias vezes, ele quase perdeu a vida".

Wateridge disse que, no final de abril, visitou Abdullah com um colega que "lhe doou o seu sangue no local para o manter vivo".

"Não é aceitável que as pessoas estejam a passar por isto e sejam tratadas desta forma", sublinha Louise Wateridge, da UNRWA.

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