A cólera voltou a revelar-se e no seu pior no sudeste africano, infectando perto de seis mil pessoas em Moçambique, Malawi e agora Zimbabué. As fortes chuvas têm sido apontadas como a principal causa para este surto, mas as más condições sanitárias continuam a ser uma praga nesta região e activistas dizem que é falha do Governo.
As intensas chuvas que caíram sobre o Malawi, Moçambique, Madágascar e Zimbabué fizeram renascer uma doença que tem sido uma praga no sudeste africano: a cólera.
A doença contrai-se pelo contacto com água poluída e causa diarreia, vómitos e severa desidratação. Pode matar em poucas horas se não for tratada adequadamente. A OCHA, agência de coordenação das Nações Unidas, diz que Moçambique, Malawi e Zimbabué já registaram cerca de seis mil casos desde Janeiro.
Hein Zeelie, representante da OCHA em Joanesburgo faz-nos a cronologia do surto: “O que estamos a ver é um grande surto a norte de Moçambique que se expandiu ao sul do Malawi que também está a lidar com uma severa situação de inundações. E já começamos a ter casos no Zimbabué, o que nos preocupa bastante porque foi o país mais afectado durante o surto de 2008 a 2009, que matou mais de quatro mil pessoas”.
Responsabilidade dos governos
Surto esse que ainda está na memória de muitos zimbabuenos, de acordo com um editorial deste fim-de-semana do jornal estatal Herald, que lembra que a última coisa que o Zimbabué precisa é de uma repetição, cujos custos em vidas, medicamentos e imagem do país são muito altos, escreve o editorial, acrescentando que este tipo de surtos reforça a má concepção de que África é um continente homogéneo definido por doenças mortais e alta ignorância em cuidados básicos de higiene.
Dewa Mavhinga, um investigador sénior da Human Rights Watch para esta região diz que este surto não é notícia de última, referindo um relatório de 2013 que dá conta das más condições dos esgotos e sistemas de água de Harare, bem como das zonas rurais onde as populações não têm acesso a água potável.
Fundamentalmente, dizem os activistas, são as condições sanitárias destes países que provocam surtos sazonais sempre que as fortes chuvas começam a cair.
E embora a cólera seja relativamente fácil de tratar, as suas causas não são fáceis de reparar. Numa única província moçambicana, o Fundo Central de Resposta de Emergência da OCHA investiu cerca de 750 mil dólares para gerir o surto e melhorar as condições sanitárias.
Para Mavinga esta é uma questão de direitos humanos: “No final resume-se a isto: Não se coloca a saúde e as condições sanitárias como prioridades, os governos não põem recursos suficientes na saúde e na prevenção de doenças. É urgente que os governos de Moçambique, Malawi e Moçambique priorizem a saúde dos seus cidadãos para garantir o controlo do surto ou ele vai engolir esta região.
Só em Moçambique já morreram pelo menos 44 pessoas, segundo o director nacional-adjunto da Saúde Pública, Quinhas Fernandes.