Dados das autoridades policiais indicam que pelo menos três cidadãos chineses morreram baleados por seus concidadãos em Manica nos últimos três anos - um em Sofala e outros dois na Zambézia, em homicídios relacionados com disputas de negócios e ou “ajustes de conta” em negócios malparados.
Homicídios por “vingança” ou “disputa de negócios” entre cidadãos de nacionalidade chinesa, sobretudo, com investimentos na área de madeira e minérios, tendem a crescer no centro de Moçambique e a polícia de Manica iniciou uma investigação sobre a proveniência das armas ilegais usadas pela “máfia chinesa” no baleamento fatal de um chinês semana passada.
Em meados de 2021 uma cidadã chinesa atirou contra seu esposo, igualmente chinês, no distrito de Manica para depois ficar com uma empresa de exploração mineira. No início do mesmo ano outro chinês foi morto por um sócio num estaleiro de madeira em Chimoio.
No caso mais recente, um cidadão chinês atirou a queima roupa contra o seu compatriota num casino clandestino na cidade de Chimoio, onde praticavam jogos de azar, após uma disputa por um negócio mal encaminhado.
O atirador, que vive em Moçambique há 13 anos e com negócios de impressão de fotografias, justificou o crime como “retaliação de uma agressão”, cometido pela vítima na mesma noite do crime.
“À noite ele trouxe quatro pessoas e levou uma arma para me matar. Ele bateu-me e banhei de sangue, por isso levei armas e disparei contra ele”, disse a jornalistas numa esquadra polícia, pouco horas depois de cometer o homicídio.
Armas ilegais
A polícia moçambicana que confirmou o “homicídio agravado” que ocorreu no casino clandestino disse que as armas usadas no crime e apreendidas pela corporação eram ilegais e iniciou uma investigação para apurar a proveniência.
“Recuperámos duas armas do tipo pistola contendo 24 munições. Temos informações da existência de mais um cidadão, comparsa do cidadão atirador, e há indícios que esteja na posse de mais cinco armas de fogo, sendo quatro pistolas e uma (espingarda de assalto) AK47. Estamos a trabalhar para aferir a origem das armas, sendo uma delas já usada no homicídio”, disse Mateus Mindu, porta-voz da polícia em Manica.
Entretanto, o analista moçambicano, Bebito Manuel, alertou para a necessidade de as autoridades travarem enquanto é cedo a “organização criminosa”, antes deste pequeno grupo se aliar a grupos mais poderosos, que tenham controlo sobre os círculos políticos, o que poderia inviabilizar a investigação destes casos.
Alastramento
“Pela natureza das mortes, todas elas relacionadas com ajustes de contas, mostra que existe aí questão relacionada com ilegalidade. Os ajustes de contas decorrem da falta de cumprimento de acordos relacionados com ações ilegais, isso não podemos negar”, disse Bebito Manuel.
O analista, Mestre em Ciências Sociais e graduado em Ciências Policiais, observa que Moçambique tem um terreno fértil e potencial risco de hibernar grupos criminosos, devido às "fragilidades" do sistema de justiça, à semelhança da indústria do rapto.
“Moçambique, levando em consideração evidências que existem, é um terreno fértil de atuação de grupos criminosos. Nós temos sequestros desde 2011 até hoje não conseguimos controlar de forma efetiva, é uma indústria que já esta consolidada em Moçambique, não podemos negar”, vincou Bebido Manuel.
Manuel acrescenta que a evolução da “máfia” chinesa “vai depender de como esses indivíduos vão se associar a grupos mais poderosos, que tenham maior controlo do território, seja controlo político e económico e daí em diante”.
Por outro lado, entende que deve ser urgente o controlo das autoridades sobre a circulação ilegal de armas nas mãos de nacionais e estrangeiros.
“Em termos de aumento de casos de violência sobretudo de homicídios envolvendo estrangeiros, o grande desafio que se coloca às autoridades é um trabalho paulatinamente para tirar essas armas das mãos alheias, de cidadãos estrangeiros ou nacionais”, precisou.
Em Moçambique existem cerca de dez mil cidadãos chineses residentes, muitos envolvidos em negócios nas diversas áreas económicas.
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