Analistas moçambicanos dizem que a chegada quase que de surpresa do contingente ruandês a Cabo Delgado, na semana passada poderá, de alguma forma, "baralhar" a estratégia dos jihadistas e consideram que o adiamento da força militar da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) traduz as divergências entre esta organização regional e o Governo de Moçambique.
Acredita-se em alguns círculos de opinião que os terroristas, embora soubessem que o Ruanda enviaria uma força a Cabo Delgado, não esperavam que isso acontecesse de forma tão rápida como ocorreu.
"Até certo ponto, isso baralha os planos de actuação dos terroristas, porque se trata de uma força adicional e não aquela contra a qual os jihadistas vinham lutando; a situação no terreno vai mudar; os ruandeses são sempre um valor acrescentado no combate ao jihadismo", diz o analista Laurindos Macuácua.
O também analista Lucas Ubisse considera também que os jihadistas terão sido apanhados de surpresa e agora terão que alterar os seus planos de operação, "sem que isso signifique, necessariamente, o fim imediato do terrorismo em Cabo Delgado".
Entretanto, a força militar da SADC devia ter começado na quinta-feira, 15, a chegar a Moçambique, mas isso não aconteceu e não houve qualquer informação sobre o adiamento.
Laurindos Macuácua entende que essa situação traduz um certo mal-estar entre a SADC e as autoridades moçambicanas.
"O ministro moçambicano da Defesa Nacional, Jaime Neto, reiterou ontem que tudo estava pronto para a recepção da força militar, o que não aconteceu, e tendo em conta que a ministra sul-africana da Defesa havia lamentado o facto de Moçambique não ter comunicado a SADC sobre a intervenção do contingente ruandês, este adiamento significa que há conflitos entre as partes", realça aquele analista.
Por seu turno, o analista Francisco Matsinhe afirma que o adiamento da força da SADC pode ter a ver com o facto de a África do Sul ter ficado irritada com a forma como Moçambique geriu a questão da força ruandesa.
Matsinhe entende, no entanto, que uma intervenção militar não acompanhada de acções de desenvolvimento económico e social, pode não resolver o conflito em Cabo Delgado, "porque há muitos interesses em jogo naquela província".