O massacre que deixou 11 pessoas mortas nesta terça-feira, 26, no destacamento militar de Monte Tchota, a 45 quilómetros da capital de Cabo Verde, continua a levantar muitas questões.
Apesar de o Governo descartar qualquer ligação do ataque protagonizado por um soldado ao narcotráfico, mas sim a motivações pessoais, pergunta-se como foi possível a um único soldado, com cerca de um ano no exército, ter assassinado, num local de alta segurança, oito colegas e três civis.
Além disso, as forças de segurança apenas se deram conta do massacre quase 24 horas depois, quando um funcionário do hotel onde estavam hospedados os dois espanhóis foi ao local à procura dele.
Manuel António da Silva Ribeiro, suspeito do massacre, roubou uma grande munição de armas e foi preso no início da tarde desta quarta-feira, 27, depois de ter feito refém um taxista.
Um irmão do soldado disse que ele é uma pessoa tranquila e que não aparentava nenhum sinal de perturbação psicológica (mental), daí estranhar a atitude do militar supostamente autor do crime que agitou o país.
Este dramático caso e outros como roubo de armas e munições que aconteceram nos quarteis nos últimos tempos demonstram fragilidades no funcionamento das Forças Armadas do país.
Mudanças de fundo
A leitura é feita pelo capitão na reforma e actual jornalista do A Nação, Daniel Almeida, que advoga medidas de fundo na estrutura militar do arquipélago.
Almeida defende a realização de “testes psicológicos aos soldados principalmente em voluntários”, como é o caso de Manuel Ribeiro, cujo pai, de acordo com a mesma fonte, “teria suicidado”.
O capitão na reforma lembrou também que “desde 1991 as Forças Armadas começaram a perder o rigor do tempo do partido único, depois que dirigentes do MpD questionaram na altura o próprio exército”.
Daniel Almeida revelou que ao tomar conhecimento do caso apercebeu-se logo que não se tratava de um acto com ligações ao terrorismo e narcotráfico.
Os passos dados pelo soldado para realizar o massacre, na óptica de Almeida, demostram que o soldado terá agido por força de alguma perturbação mental ou razões pessoais.
Para o capitão não se entende como é que as Forças Armadas só se deram conta da chacina quase 24 horas depois, "algo está mal".
O Governo decretou dois dias de luto nacional.
Hoje, no final de uma visita ao avião militar americano Boeing C-17, o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva pediu às pessoas para estarem tranquilas.