O antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, dirigiu a operação que levou à transferência de 500 mil dólares do Banco Nacional de Angola (BNA) para um banco no Reino Unido, para criar um fundo para a promoção da economia do país.
A afirmação foi do antigo governador do BNA, Valter Filipe, nesta quarta-feira, 18, no Tribunal Supremo de Angola, em Luanda, que o julga pelos crimes de burla por defraudação, branqueamento de capitais e peculato na forma continuada, juntamente com o antigo presidente do Fundo Soberano de Angola, José Filomeno dos Santos, o empresário Jorge Gaudens e um antigo director do BNA, António Samália Bule.
Filipe assegurou que todo processo "foi conduzido" pelo antigo Presidente, tendo o BNA coordenado apenas a equipa de negociações.
O BNA "não camuflou nada sobre a transferência, como diz acusação", sublinhou Valter Filipe que acusou o seu sucessor de prestar falsas declarações ao Ministério Público.
"O senhor José de Lima Massano prestou falsas declarações e levou o Ministério Público a instruir mal este processo todo. Não sei por que razão. A transferência foi legal. Eu tinha, sim, competências para transferir até 500 milhões de dólares", afirmou, reiterando que informou o novo governador da operação.
Durante horas, ele explicou todo o processo que disse ter sido complexo e confidencial, tendo chorado em alguns momentos.
Em Junho de 2017, segundo o antigo governador, o antigo Presidente reuniu-se com ele e com o então ministro das Finanças, Archer Mangueira, aos quais entregou um documento que tinha o timbre do banco BNPB Paribas e pediu para ler a carta que solicitava a apresentação de uma proposta de um financiamento, através de um sindicato bancário.
Na ocasião, Santos disse que “aquela era uma boa oportunidade de financiamento, para a produção nacional”, que não iria endividar o Estado, e pediu que contactassem os proponentes.
Depois de descrever encontros, viagens e decisões, Valter Filipe reiterou que não fez nada sem a orientação do antigo Presidente José Eduardo dos Santos que, segundo ele, pediu que se acelerasse o processo porque não queria deixar ao próximo chefe de Estado um país endividado.
O julgamento continua amanhã.