Uma carta atribuída ao antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos divulgada pela filha Welwitschia “Tchizé” dos Santos garante ser “mentira” que tenha recebido dinheiro do Estado, nomeadamente através da venda de diamantes e de petróleo.
Depois de desafiar, através do WhatsApp, os jornalistas a procurarem uma cópia da carta alegadamente enviada pelo pai ao presidente da Assembleia Nacional e ao juiz-presidente do Tribunal Supremo no o gabinete do antigo Presidente em Luanda, “Tchizé” divulgou o documento na sua página no Facebook.
Na carta de duas páginas, José Eduardo dos Santos começa por escrever que o Presidente da República “não tinha participação directa nas vendas dos diamantes”.
Ele explica que “os diamantes eram vendidos pela Sodiam e pela Endiama”, que “havia um sistema de direitos preferenciais que compravam os diamantes” e “esses clientes preferenciais eram investidores no sector da produção de diamantes e compradores de diamantes já produzidos”.
Ainda de acordo com a carta, Santos diz que os clientes preferenciais assinaram um contrato com a Sodiam de compra e venda, onde era definido como eram formados os preços e o sistema de pagamento e que “o Presidente da República não vendia nem comprava diamantes, quem disse que ele fazia isso mentiu”.
Nomes responsáveis pela venda de petróleo
No que diz respeito à Sonangol, “o Presidente da República não tinha participação directa na venda do petróleo bruto”, que, segundo a carta de Santos, “era vendido através de um sistema pela Sonangol”.
Os responsáveis foram, de acordo com a nota, “primeiro o eng. Joaquim David que controlava as vendas do petróleo, quando este saiu passou a ser o eng. Manuel Vicente e depois passou a ser o Dr. Francisco José Maria de Lemos”.
Em ambos os casos, segundo a carta, todos os pagamentos depois eram encaminhados para os seus destinos e para Orçamento Geral do Estado.
E assegura que “nunca transferiu para si próprio ou para qualquer outra entidade dinheiro do Estado”.
"Tudo o que foi ditto é autêntica mentira", conclui o antigo Chefe de Estado.
General "Dino", o mensageiro
Antes da divulgação da carta, que tem a assinatura de José Eduardo dos Santos e é datada de 13 de Janeiro, Welwitschia “Tchizé” dos Santos revelou que “o general Leopoldino Fragoso do Nascimento foi o portador da carta aberta para fazer a entrega em Luanda” e disse estar “a aguardar a publicação da carta de José Eduardo dos Santos, onde diz quem é que vendeu o petróleo e os diamantes”.
A VOA tentou falar com o general Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino” e com a Fundação Eduardo dos Santos, em Luanda, mas sem sucesso.
Processo contra Isabel dos Santos e acusações
A 30 de Dezembro de 2019, o Tribunal Provincial de Luanda ordenou o congelamento de todas as contas e bens de Isabel dos Santos, do seu marido, Sindika Dokolo, e do presidente do Banco de Fomento de Angola, Mário Leite da Silva por considerar que “ficou provada a existência de um crédito para com o Estado” de mais de mil e 100 milhões de dólares
O despacho indicou ainda que, na sequência desses negócios, o Estado transferiu por via das empresas Sodiam e Sonangol “enormes quantias em moeda estrangeira... sem que houvesse o retorno convencionado”.
No despacho-sentença, o tribunal dá como provado que José Eduardo dos Santos favoreceu negócios de Isabel dos Santos e afirma que os três “reconhecem a existência das dívidas, porém alegam não ter condições para pagar”.
Isabel dos Santos refuta as acusações e diz estar a ser alvo de uma campanha política do Presidente angolano, João Lourenço.