Camponesas expulsas do perímetro agrícola da Catumbela, na província de Benguela, para darem lugar à construção de uma fábrica de adubos, propriedade de cidadãos chineses, estão desesperadas e sem condições para sobreviver.
Uma das 40 senhoras morreu nos últimos dias, presumindo-se que as dificuldades sociais sejam a principal causa da morte.
Entre as quatro dezenas de camponesas que perderam produtos como a cana, mandioca e batata, em consequência da acção levada a cabo por cidadãos chineses em Março último, há uma que já não se movimenta mais.
Desafiando uma obra que resulta de “ordens superiores”, como explica o Gabinete do Vale da Catumbela, a maior parte das senhoras continua estacionada nas imediações da via-férrea, numa actividade bastante precária.
Xavier Tchivembe, que se encontrava ao lado das camponesas, também afectado pela destruição de culturas, conta que a fome está na base do cenário de desespero.
“As 38 mulheres que giraram comigo são mais velhas da terceira idade, apenas sete ou oito fazem negócios. Elas andam muito a pé, procurando água para pôr nas plantas, estão a semear ao lado do muro dos chineses. É só para remediar”, explica.
Xavier Tchivembe realça ainda que lutou até onde pôde, chegando a confrontos físicos com chineses, mas a verdade é que o destino estava traçado.
“Os chineses começaram por estragar os nossos produtos, por isso perdi a cabeça e bati em quatro deles. Depois, o encarregado de obras foi com polícias à minha casa. Nós não temos advogados, só eles têm, um angolano. Eu lutava sozinho, indo à rádio, à administração e ao tribunal», conta.
O facto curioso é que nem a estratégia do Governo de Isaac dos Anjos é suficiente para contrapor as ordens superiores
“Catumbela era uma fazenda de cana-de-açúcar, com 144 quilómetros de canais. É uma terra que Deus nos deu, terra riquíssima, onde não se deve meter betão. Tenham paciência, vamos lá construir noutros locais, aí (Catumbela) é para a agricultura», conclui Tchivembe.
Refira-se que o Gabinete do Vale da Catumbela, adstrito à Direcção da Agricultura, preferiu não reagir, limitando-se a confirmar a construção de uma fábrica de adubos no espaço em litígio.