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Cabo Verde: "Uma ditadura partidária" na origem do descrédito nos políticos, "que devem fazer mais"


Manifestação de professores na Cidade da Praia, Cabo Verde
Manifestação de professores na Cidade da Praia, Cabo Verde

Especialistas explicam causas de que apenas 14,2 por cento dão nota positiva aos políticos

Os cabo-verdianos não estão contentes com a forma como se faz política no país, na leitura de especialistas, que, assim, corroboram os resultados do terceiro inquérito sobre Governança, Paz e Segurança, referente a 2023.

O documento divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas revela que apenas 14,2 por cento dos inquiridos acreditam que os políticos respondem às suas necessidades, o que representa uma diminuição em relação aos 17,1 por cento de 2013 e 15,7 por cento de 2016.

No entanto, apesar do descrédito nos políticos, os cabo-verdianos acreditam na democracia e na transparência das eleições.

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Na leitura de especialistas, esse descontentamento reside na forma como a política é feita, já que, dizem, a perceção dos cidadãos é que a maioria dos políticos estão mais preocupados com os interesses pessoais e partidários em detrimento dos reais anseios e interesses das populações.

O sociólogo e investigador Redi Lima afirma que o problema é visto neste prisma e não com a democracia e eleições, sempre avaliadas pelo povo como algo positivo .

“Nós temos uma sociedade em que os políticos estão ao serviço dos partidos, temos uma ditadura partidária em Cabo Verde… se pegar nos dados da Afrosondagem e noutros que existem, vai reparar que acreditam menos principalmente nos deputados, que em teoria são eleitos para responder às necessidades dos cidadãos, mas na prática estão lá a defender o seu legado e o partido… no fundo é isso que nós vemos e as pessoas leem isso assim”, explica Lima.

Aquele investigador acrescenta que dos trabalhos que tem feito nas comunidades, fica claramente demonstrada a necessidade de se incrementar uma democracia participativa, dando mais espaços à sociedade civil, neste caso a possibilidade da apresentação de listas uninominais nas eleições legislativas e não ficar atrelado apenas aos partidos políticos.

“Há muita gente que não vota por simplesmente porque não aceita a pessoa que o partido coloca para ele ir votar e não se sente representado, não é à toa que nos dados nos mostram que a maioria dos cabo-verdianos não se sente representada … não se sentem por quê, porque eles não escolheram de facto os seus representantes … há toda uma lógica partidária aqui, há toda uma lógica clientelista aqui”, acrescenta aquele investigador.

Por sua vez, o antigo ministro da Saúde e da Educação de vários governos Manuel Faustino considera que se deve interpretar a leitura de algum descrédito de boa franja da população nos políticos com a necessidade de os mesmos se empenharem mais e ter em atenção a preocupação das populações em primeiro plano.

“Eu acredito que a esmagadora maioria dos que dizem que os políticos não fazem nada, no fundo o que querem dizer suponho, é que deveriam fazer muito mais.., um dado negativo mas que não deve ser visto numa perspectiva absoluta… sendo que muito provavelmente, apesar de tudo, uma boa parte desses 14 por cento pensa que há políticos só veem a sua intervenção política como meio para resolver os problemas pessoais… e isso deve levar os políticos a refletir”, anota aquele psiquiatra.

No que tange à percepção da corrupção, o antigo Chefe da Casa Civil da Presidência da República diz que as “constantes trocas de farpas e acusações sobretudo entre o MpD e o PAICV, os dois partidos de arco do pode,r e alguma postura de ostentação num país cuja maioria da população enfrenta a pobreza, reforça a ideia do aumento de corrupção no seio da classe politica”.

O terceiro inquérito sobre Governança, Paz e Segurança revela que 85,2% dos cabo-verdianos sentem que os políticos “não respondem” ou “pouco” atendem às suas necessidades.

O documento mostra que a percentagem da população que procura os estabelecimentos públicos, bem como o nível de confiança nestes, está a diminuir desde 2013.

As instituições de educação recebem maior nível de confiança da população (acima de 66%), seguindo-se as de saúde e da segurança social, que detêm um nível de confiança acima de 50%.

Menos de metade da população (39,8%) considera os processos de tomada de decisão na governação “inclusivos e adequados”.

Da análise dos dados do inquérito, constata-se ainda que 46,6% da população declarou estar satisfeita ou muito satisfeita com a forma como a democracia tem funcionado em Cabo Verde.

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