As confissões públicas de alguns seguidores da Congregação dos Adventistas do Séptimo Dia de Tendas ( CRASDT) estão a causar polémica sobre a liberdade religiosa em Cabo Verde.
O caso ganhou destaque depois de várias revelações de práticas de orgias sexuais, consumo de drogas e maus-tratos, envolvendo algumas figuras públicas, nomeadamente juízes, procuradores e médicos, entre outras categorias profissionais.
Os fiéis em questão afirmam que se tratam de pecados que cometeram no passado e que as confissões servem para limpar a alma e continuarem a vida de forma livre e sem o cometimento de outros pecados.
Um dos indivíduos ligados as tais confissões, o juiz Amândio Brito que já foi suspenso das funções pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial, considera normal a confissão dos pecados e garante que nada tem a ver com a profissão que cada um exerce.
Já o Procurador da República, Vital Moeda, também seguidor da CRASDT, solicitou a saída do Ministério Público, a fim de se dedicar livremente à actividade religiosa.
Sobre a polémica instalada, o presidente das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia, António Anjos, afirma que a sua denominação sempre tentou uma aproximação aos membros dissidentes e que pertencem à CRASDT, mas sem sucesso.
Anjos sublinha a existência de algumas lacunas na lei da liberdade religiosa e de culto, aprovada em 2014, que prevê no artigo 35, uma comissão de liberdade religiosa com diversas competências que nunca foi composta.
Por isso, solicita a criação de uma associação das confissões religiosas no arquipélago, uma experiência que acontece noutras partes do globo, o que seria uma grande valia para Cabo Verde.
Para o analista Pedro Moreira, há que ter em conta vários aspectos, nomeadamente os que têm que ver com a violação dos direitos humanos e outros actos mencionados nas confissões vindas a público.
Em termos de religião e liberdade de culto, Moreira encara a situação com alguma preocupação, quanto mais não seja, porque envolve pessoas com responsabilidades públicas relevantes.
Segundo Moreira, as questões vindas a público interpelam as autoridades e confissões religiosas a tomar medidas para salvaguardar o trabalho que desenvolvem na sociedade.