O posicionamento recente do Presidente e do primeiro-ministro de Cabo Verde de o país não estar presente na cimeira Rússia-África realizada na semana passada em São Petersburgo volta a abrir o debate sobre a mudança da política externa do arquipélago, que sempre se pautou pela equidistância entre as grandes potências.
No país há apelos a um não alinhamento, devido à pequenez, fragilidade e dependência do país, enquanto há quem lembre que há uma mudança real, sufragada nas urnas, na política externa.
O antigo presidente da Assembleia Nacional António Espirito Santo considera que Cabo Verde deve continuar firme na defesa dos valores que norteiam os direitos internacionais, mas deve ter também em linha de conta a sua realidade de país pequeno e frágil.
"A política externa de qualquer país tem que ter em conta o seu peso específico no mundo e Cabo Verde, em termos desse peso sobre o mundo, é zero vírgula zero … como é que poderá enfrentar a dita crise dos cereais se ela se agravar drasticamente… o país tem meios de previsão, meios para enfrentar uma crise sozinho, são perguntas que muita gente não gosta de ouvir e até parece que começa a ser proibido as pessoas fazerem pergunta”, sustenta o também antigo Provedor de Justiça.
O antigo embaixador na ONU e noutras representações do país, Fernando Wanhon, diz estar bem patente no programa do Executivo a mudança da política externa, que foi sufragada nas urnas.
“Uma das questões que foi muito falada durante a campanha era o estreitamento de relações por exemplo com o Israel … o que era uma mudança significativa não é… não aconteceu tal como se podia prever mas as pessoas estavam de acordo e votaram no partido que propôs determinadas questões nomeadamente na política externa algumas mudanças”, afirma Wanhon, para quem o Governo “é livre dentro deste quadro mudar independente das opiniões de alguém achar que está bem ou não”.
Por sua vez, o antigo conselheiro presidencial e analista político António Ludgero Correia afirma que os direitos internacionais devem ser sempre salvaguardados, mas entende que isso não significa que o país deva se isolar e deixar de ouvir os outros e apresentar os seus pontos de vista nas diferentes frentes.
“Quando a questão é a favor da paz, deve sempre fazer parte da solução e não do problema”, conclui Correia.
Recorde-se que o Governo anunciou recentemente outra mudança na política externa ao reconhecer a autoridade de Marrocos sobre todo o território, ao contrário do que vinha sendo mantido desde 1977, em que Praia aguardava uma decisão da ONU sobre o conflito entre Marrocos e a Frente Polisario.
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