O primeiro-ministro de Cabo Verde classificou de "manobra política" o coro de comentários ao que Ulisses Correia e Silva disse ser "um ajuste" e não um aumento salarial dos membros do Conselho de Administração do Banco de Cabo Verde (BCV).
Na semana passada, o jornal A Nação noticiou que uma resolução do Conselho de Ministros aumentou o salário do governador e dos administradores do banco central em 17 e 18,4 por cento.
Os dois principais partidos da oposição e um destacado dirigente do partido no poder, o MpD, criticaram a decisão.
Em entrevista à Voz da América, o Chefe do Governo explicou que "existem desfuncionalidades remuneratórias de tal forma que um diretor vence uma remuneração superior à de um adminstrador e na proximidade da remuneração do governador" , fato que, segundo Correia e Silva, levou à decisão visando "eliminar essas disfuncionalidades remuneratórias".
A título de exemplo, o primeiro-ministro afirmou que o escalão mais elevado de um diretor, assessores e técnicos consultores do BCV é de 318 contos (cerca de 3.180 dólares), enquanto um administrador tem o salário de 290 contos (2.900 dólares), que tem responsabilidades acrescidas e superiores ao de um diretor.
"Gente muito reativa"
"Por isso foram introduzidos índices de correção, que não são aumentos salariais", continuou Correia e Silva, indicando que o governador passa a ganhar mais 23 por cento do que o diretor e os administradores mais 8 por cento.
Para o primeiro-ministro "houve muita confusão por parte de gente que está muito reativa relativamente a este tipo de questões, sem entender a medida e começa logo a fazer esssas narrativas".
Ulisses Correia e Silva lembrou que o BCV é uma autoridade monetária de supervisão e dentro do que é estabalecido a nível das instituições financeiras, o "Conselho de Administração do Banco de Cabo Verde vence a valores muito inferiores aos que são praticados nos bancos comerciais, em que a média, a média, é de 580 mil escudos (5.800 dólares)".
O Chefe de Governo cabo-verdiano concluiu que "para atender a toda a manobra política que está a ser feita sobre esta matéria, está-se a transformar uma medida de ajustamento das disfuncionalidades em atualização salarial".
Na sua edição da pasada quinta-feira, 21, o jornal A Nação noticiou que "o governador e os administradores do Banco de Cabo Verde acabam de ver os seus salários aumentados em 17 e 18,4 por cento, conforme Resolução do Conselho de Ministros".
A UCID e o PAICV, na oposição, criticaram a decisão e apontaram o dedo ao primeiro-ministro quem disse anteriormente não haver espaço para aumento salarial na função pública devido à situação económica do país.
O próprio coordenador do MpD, partido no poder, na capital do país, António Melo, na sua página no Facebook, criticou a decisão e disse que "enquanto a maioria dos cidadãos cabo-verdianos está enfrentando dificuldades económicas e lutando para sobreviver, é inaceitável que aqueles que estão no poder recebam aumentos salariais tão substanciais.
Na segunda-feira, 25, o Presidente da República defendeu a revisão da política salarial do Estado para evitar injustiças.
Instado pelos jornalistas sobre a decisão do banco central, José Maria Neves disse não comentar a medida em concreto, mas considerou que se deve "revisitar a política salarial do Estado para evitar incongruências, para evitar injustiças gritantes e também para não pôr em crise todo o sistema de mérito que deve nortear o funcionamento do Estado".
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