A festa da Independência Nacional, no dia 5 de Julho de 1975, na capital, Praia, foi o início de uma longa e dura caminhada do arquipélago sobre o qual governantes da antiga colónia, Portugal, tinha pedido um sistema de tutela em direcção à sua afirmação como país.
Os dirigentes do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) fundado por Amílcar Cabral, entretanto morto, tinham pela frente a árdua tarefa de delinear os caminhos para a construção de uma nova Nação, que se esperava diferente para melhor.
Sem reservas alimentares e com todos os desafios inerentes de um país seco, sem recursos naturais e arquipelágico, o novel Governo lançou o programa de Reconstrução Nacional, que orientou o país nos primeiros 15 anos de vida como Nação independente.
A caminhada não se afigurava fácil, tendo em conta a inexistência de recursos naturais e financeiros, incluindo o reduzido número de quadros capacitados para as diferentes áreas de acção, como disse à VOA o primeiro-ministro de então Pedro Pires.
Passado o primeiro momento, necessário para o abastecimento das populações com os bens essenciais da primeira necessidade, Pires afirma que cabia ao Governo começar a delinear estratégias para a construção de infra-estruturas como estradas, melhorias dos transportes aéreos e marítimos, fundamentais para a ligação do território cabo-verdiano, formado por 10 ilhas, das quais nove são habitadas.
"Tivemos que criar as Frentes de Alta Intensidade de Mão-de-Obra(Faimo) para dar trabalho às pessoas, mas também construímos as infraestuturas necessárias", lembra o antigo chefe do Governo que lamenta que "muitas pessoas não tenham entendido o papel das Faimo".
O pensamento no futuro, de acordo com Pires, exigia a mobilização de recursos, sobretudo de parceiros internacionais e, nessa perspectiva, lembra, o Governo resolveu abrir a economia cabo-verdiana ao investimento externo.
Para a combatente da liberdade de pátria, Lilica Boal, a mulher cabo-verdiana desempenhou um papel importante no processo da reconstrução de Cabo Verde independente, contribuindo sobretudo nas áreas da educação, saúde e agricultura.
Essa contribuição de acordo com Lilica Boal foi notória, desde o processo da luta de libertação conduzida pelo PAICG.
"As mulheres foram alfabetizadas, nessa grande campanha desenvolvida em todos os recantos do país, mas também tiveram a acesso a muitas informações, passando a desenvolver muitas actividades, além de donas de casa e mãos", lembra a única deputada do primeiro Parlamento.
Para o analista político António Ludgero Correia, a construção do Cabo Verde independente exigia o arregaçar das mangas e o contributo de todos, neste particular destaca a figura de Pedro Pires.
"É uma figura incontornável desse período", considera.
Quanto ao modelo económico implementado na vigência da chamada I República, António Ludgero Correia explica que os governantes de então seguiram um caminho que tinha dado provas em algumas latitudes, "mas que já estava a ser contestado noutras paragens.
Ainda assim Correia ressalva algumas medidas interessantes avançadas pelo chefe do Executivo, Pedro Pires, que no entanto foi contestado por certos elementos do Governo, como "a definição de quem era empresário, em 1986 e a conhecida abertura económica em 1988".
As medidas para a integração de Cabo Verde na economia mundial como se designava na alturam diz António Ludgero Correia, foi importante nos passos dados pelo Governo saído das eleições democráticas de 1991, ganhas pelo MPD, visando a maior abertura da economia do arquipélago.
Terminava assim o período de partido único e Cabo Verde ensaiava os primeiros passos como país democráco, imprensa livre, economia de mercado e abertura total ao exterior.