José Maria Neves foi empossado nesta terça-feira, 9, Presidente de Cabo Verde e no seu discurso feito, alternadamente, em português e em cabo-verdiano apontou a reconstrução do país como a grande prioridade nacional, defendeu uma relação mais eficaz com a diáspora, realçou a necessidade de uma política externa arraigada em África e prometeu lutar contra as desigualdades e promover um novo pacto entre as ilhas.
Após ser empossado pelo presidente da Assembleia Nacional, Austelino Correia, ante cinco chefes de Estado, uma dezena de delegações estrangeiras, entre elas dos Estados Unidos, e centenas de personalidades e convidados, Neves destacou que a reconstrução do país no pós-pandemia “trata-se de uma tarefa ingente e que exige a convocação de toda a nação global cabo-verdiana”.
“Este é o tempo de cerrar fileiras e todos, juntos, dar o melhor de nós para o progresso da nossa terra e o bem-estar de todos, a começar pelos que têm sido directa e desproporcionalmente mais atingidos em virtude do círculo de fragilidade”, disse.
Na sua intervenção, José Maria Neves reiterou frases da sua campanha e que reforçou em várias entrevistas após a sua vitória, a 17 de Outubro, ao garantir que será um Presidente diferente, que vai privilegiar a estabilidade e ser um ouvidor de todos.
“Sou um Presidente que une, que cuida e protege, um Presidente positivo e empenhado em levantar a alma e o espírito da nação. Estarei atento às reivindicações e aspirações dos cabo-verdianos”, sublinhou José Maria Neves, quem também prometeu actuar de acordo com os instrumentos e mecanismos que estiveram ao seu alcance, designadamente através da promoção de ‘Presidente Ilha’ e ‘Presidente Diáspora’, como espaço de diálogo e de busca de soluções para os problemas premente do país em cada momento”.
Diáspora presente
Numa referência à diaspora, e depois de destacar a presença do secretário do Trabalho dos Estados Unidos e antigo mayor de Boston, que acolhe uma grande comunidade imigrada, Neves realçou a necessidade de aproveitar os talentos, tendo na ocasião citado a presença na cerimónia da ministra da Igualdade de Género da França, a franco-cabo-verdiana, Elisabeth Moreno.
“Temos de fechar o ciclo das remessas financeiras e investimentos circunscritos que, mais do que isso, aposte em capitais e activos valiosos nos nossos dias. Falo de remessas de ideias, remessas espirituais, remessas de competências e capacidades de entre as muitas e altamente qualificadas que existem nas nossas comunidades emigradas”, afirmou José Maria Neves, quem colocou ênfase numa relação “mais eficaz e enriquecedora” com os imigrantes em várias sectores, como saúde e digital.
Oficialização do crioulo e promoção das famílias
Ao fazer o discurso em português e cabo-verdiano, o novo Presidente deu mote à necessidade da oficialização da língua materna, popularmente chamada de crioulo.
E garantiu que “enquanto Presidente da República vou estar na primeira linha do combate pela oficialização do nosso crioulo, com base em todas as variantes, pois que são as marcas da sua riqueza e força como língua deste povo disperso por várias ilhas”.
Entre outras preocupações, José Maria Neves acentuou a prioridade da política externa assentada em África, propôs um novo pacto entre as ilhas e prometeu uma atenção especial à criação de condições para a estabilidade e o bem-estar das famílias em Cabo Verde.
“Têm de ser criadas mais oportunidades para as mulheres, sobretudo, para aquelas chefe de família, uma realidade que antes era distorcida, mas que deve ser respeitada e valorizada como um aspecto de nossa história, de sociologia de família, de económica e de relação humana no nosso país”, destacou o novo Presidente que assumiu estar na linha da frente no combate contra a Violência com Base no Género (VBG) e “a favor da promoção de maternidade e paternidade responsável”.
A posse de José Maria Neves teve a presença dos Presidentes de Angola, João Lourenço, da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, do Gana Nana Akufo-Addo, que é também presidente em exercício da CEDEAO, do Senegal, Macky Sall, e de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como do vice-presidente de Brasil, Hamilton Mourão, do presidente da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe, Delfim das Neves, da ministra francesa da Igualdade de Género, Elisabeth Moreno, do secretário do Trabalho dos Estados Unidos, Martin Walsh, além de outros representantes.
José Maria Neves sucede a Jorge Carlos Fonseca e é o quinto Presidente de Cabo Verde.