Links de Acesso

Cabo Verde: Morreu o combatente da liberdade, ex-ministro e investigador Corsino Tolentino


Corsino Tolentino (centro), prémio Liderança 2015, Universidade de Minesota, Estados Unidos
Corsino Tolentino (centro), prémio Liderança 2015, Universidade de Minesota, Estados Unidos

"Uma enorme perda para Cabo Verde”, disse o Presidente da República

Morreu na cidade da Praia, em Cabo Verde, nesta terça-feira, 21, o combatente da liberdade da Pátria, ex-ministro da Educação, diplomata, escritor e investigador Corsino Tolentino vítima de paralisia supranuclear progressiva, doença que o afectava há algum tempo e que deu origem à sua última obra literária.

“Hoje, 21 de Dezembro, às 7h, André Corsino Tolentino fez a sua última viagem. No dia do solstício quando, desde tempos imemoriais as culturas de todo o mundo celebram o Sol e o ciclo da vida, também nós hoje honramos esta alma magnífica cuja luz fomos privilegiados em receber”, escreveu na sua página no Facebook, a filha Leida Curado Tolentino.

Numa primeira reacção, o Presidente de Cabo Verde classificou a morte de Tolentino “uma enorme perda para Cabo Verde”.

José Maria Neves destacou que “Corsino Tolentino foi um combatente destemido pela liberdade e sempre foi um defensor acérrimo da dignidade das cabo-verdianas e dos cabo-verdianos”, e, como diplomata, deu um contributo “muito grande” para o reforço das relações de Cabo Verde com o mundo.

Como ministro da Educação, lembrou, “com ele foi aprovada a primeira lei de bases do sistema educativo cabo-verdiano que lançou os alicerces para o desenvolvimento do sistema educativo cabo-verdiano”.

Por outro lado, sublinhou o chefe de Estado, Corsino Tolentino desempenhou com “muita assertividade” a sua cidadania e que “deu um enorme contributo para a elevação do debate político em Cabo Verde”.

Percurso

Natural da ilha de Santo Antão, onde nasceu a 30 de Maio de 1946, depois dos estudos liceais, Corsino Tolentino matriculou-se, em 1966, no curso de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas da então Escola Superior Colonial, em Lisboa.

Pouco tempo depois, engajou-se na luta pela independência nacional e em 1970 integrou-se à guerra na Guiné-Bissau, de onde regressaria ao seu país natal após a independência nacional.

Dirigente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que depois de 1980 passou a designar-se PAICV, foi ministro da Educação, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e embaixador de Cabo Verde em Portugal.

Ao mesmo tempo, seguiu os seus estudos superiores universitários, tendo conseguido os graus de mestre pela Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e Doutor pela Universidade de Lisboa, Portugal.

Em 1990, após a abertura democrática em Cabo Verde, liderou a equipa do PAICV nas negociações com o emergente Movimento para a Democracia (MpD) com vista a definir o calendário do processo de transição e as primeiras eleições democráticas.

Escritor, investigador e analista político e social, Tolentino foi consultor do Banco Mundial, dirigente da Fundação Calouste Gulbenkian, membro da Fundação Amílcar Cabral e promotor da criação do Instituto da África Ocidental e da Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde.

Em 2015, ele recebeu o prémio Liderança da Universidade de Minnesota, Estados Unidos da América (Foto).

A doença e a última obra

Entre publicações, incluem-se a sua tese de doutoramento que deu lugar ao livro “Universidade e Transformação Social nos Pequenos Estados em Desenvolvimento (2007), o estudo “A Importância e o Impacto das Remessas dos Imigrantes em Portugal no Desenvolvimento de Cabo Verde, escrito em coautoria com Carlos Rocha e Nancy Tolentino (2008), e “Cabo Verde: Janelas de África - 1975-2015” (2016).

Em 2016 foi diagnositicado com o mal de Parkinson, mas mais tarde foi confirmada uma paralisia supranuclear progressiva, doença rara que deu origem ao seu último livro, “A vitória é hoje. A minha relação com a Paralisia Supranuclear Progressiva”, lançado a 26 de Novembro, na Cidade da Praia,

“Sinto que tenho mais coisas a dizer e já usei toda a capacidade dos meus dedos para escrever. Porém, ainda não usei todo o meu pensamento!”, escreveu a terminar Corsino Tolentino.

XS
SM
MD
LG