A três anos de ser declarado país livre da malária, Cabo Verde regista em apenas três meses 217 casos da doença, dos quais 205 autóctones, o que não acontecia há mais de duas décadas.
As autoridades já classificaram a situação na capital do país, Praia, de epidemia, com 213 casos.
O Governo e parceiros lançaram uma grande ofensiva de combate à doença, com recurso às Forças Armadas, enquanto os especialistas tentam descobrir as causas desse surto.
A época das chuvas vai de Agosto a Novembro, mas até o dia 14 de Setembro foram registados 217 casos, dos quais 205 autóctones.
Houve um morto entre os 12 casos importados do continente africano.
Em entrevista à VOA, a directora do Serviço de Vigilância e Respostas às Epidemias da Direcção Nacional de Saúde reconheceu que, embora não seja uma endemia, a situação preocupa.
“É uma situação inesperada porque, por exemplo, em 2015, a Praia notificou três casos e em 2016 48 (…), portanto eu não diria que houve um retrocesso mas tudo aponta para algo anormal”, disse Maria de Lourdes Monteiro.
Forças Armadas no terreno
No terreno, além de uma forte campanha de informação às pessoas sobre o seu comportamento nomeadamente com as águas residuais e o lixo, as autoridades procuram atacar a raiz do problema.
“Até as Forças Armadas foram chamadas para ajudar no combate”, continua Monteiro, adiantando ainda que “reforçou-se a pulverização intra-domiciliar e a pulverização espacial”.
Em 2020, Cabo Verde deveria ser declarado país livre de malária pela Organização Mundial da Saúde, um objectivo que pode ser adiado, em virtude da situação actual que, como admitem as autoridades, pode piorar em virtude de a época das chuvas terminar apenas em Novembro.
Estatuto de país livre de malária em risco
Maria de Lourdes Monteiro, no entanto, acredita ser possível manter o objectivo de 2020, embora Cabo Verde possua neste momento “um quadro de país livre da malária” em termos dos padrões internacionais quando comparado com outras realidades.
“Reitero ser preciso fazer um estudo para saber se houve práticas que levaram a esse recrudescimento, mas penso que se houver vontade política e todos nos sentarmos à mesma para discutir, é possível atingir essa meta”, concluiu a directora do Serviço de Vigilância e Respostas às Epidemias da Direcção Nacional de Saúde de Cabo Verde.
Entretanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a Cabo Verde a criação de uma plataforma na internet para a vigilância epidemiológica, que vá desde a troca de informações e dados ao controlo das respostas e da situação em cada momento.
Aquela instituição acredita que tal será possível tendo em conta a experiência que Cabo Verde na área da telemedicina.