Os cidadaos cabo-verdianos estão cada vez menos confiantes nas instituições públicas e na classe política, de acordo com um estudo revelado nesta semana pela empresa Afronsondagem.
Opiniões recolhidas pela Voz da América, apontam como causas para essa queda de confianças a fraca capacidade e vontade política em resolver os principais problemas, o facto de a maioria dos políticos se preocuparem mais com os interesses pessoais e partidários, a percepção da corrupção e o clima de impunidade para determinadas elites.
Elizabeth Silva, residente na cidade da Praia, diz que os políticos estão mais preocupados com a resolução dos respetivos problemas dos grupinhos que os rodeiam.
“Nós vemos no dia a dia, repare na grande massa migratória dos jovens muitos formados que saem do país porque não encontram trabalho, que existe somente para os grupinhos afetos aos partidos, por isso o povo está a desacreditar cada vez mais", aponta Silva, quem diz ter deixado "de acompanhar muitos debates que somente defendem os interesses particulares, pessoais e não do povo”.
Na mesma linha de pensamento, o empresário Arnaldo Barreto aponta os muitos jovens formados e sem perspetivas, bem como o incumprimento das inúmeras promessas feitas nas campanhas eleitorais.
“Há muitas coisas que fizeram promessas e não estão sendo cumpridas, depois dão sempre desculpas com a guerra na Ucrânia e noutras partes… mas o povo os elegeu para servirem e resolver os problemas do país e não interesses pessoais”, diz Barreto.
Por sua vez, o empresário Braz de Andrade não corrobora a opinião de que os políticos não fazem nada, mas critica medidas adotadas e comportamentos registados no funcionamento das instituições públicas.
“Imagine que dentro do cartório há um indivíduo que recebe valor utilizando o seu cartão de credito… temos de ter a consciência que mais da metade da nossa população não possui uma conta no banco… um indivíduo chega ao cartório para tirar uma certidão tem de pagar com cartão multibanco e a pessoa que precisa desse documento já sai revoltada porque tem dinheiro mas não pode pagar”, afirma Andrade, quem defende maior integração e resolução desses problemas, que causam a revolta das pessoas.
Para o sociólogo e analista político Redi Lima, estes dados não causam muita surpresa porquanto tanto os estudos anteriores da Afrosondagem como do Instituto Nacional de Estatísticas nos últimos tempos apresentam dados que demonstram a insatisfação dos cidadãos no funcionamento das instituições e dos políticos.
“Primeiro, a diferença entre o que se promete nas campanhas e o que realmente é feito na governação e depois, a questão da impunidade a sensação que pessoas têm que a justiça existe só serve para alguns… a ideia que até está explanada no estudo da aAfrosondagem que há cada vez mais um fosso entre os ricos e os pobres", enumera Lima, quem vê ainda "uma sensação de corrupção sobretudo nas instituições.
"Obviamente que a desconfiança vai assentuando”, anota Lima, que destaca ser a primeira vez o estudo menciona a saúde como uma das áreas mais preocupantes, tendo em conta que houve casos de “mortes nos hospitais e alguns por negligência e que não deram em nada, situação de facto preocupa os cabo-verdianos”.
O estudo divulgado pela Afrosondagem no dia 17 revelou que as Forças Armadas continuam a ser a instituição em que mais os cabo-verdianos confiam, mas o nível de confiança caiu de 74 por cento para 54 por cento num período de dois anos.
O Governo é mal avaliado em todas as áreas, enquanto 46 por cento dos inquiridos consideram que tanto o Presidente da República como o primeiro-ministro têm culpa na relação entre eles que 35 por cento classificam de “tensa”.
”Desde o Presidente da República, passando pelo primeiro-ministro, pela Assembleia Nacional, inclusive pela Comissão Nacional das Eleições, nós constatamos uma queda generalizada nas instituições eleitas, mas também não eleitas", disse José Semedo ao apresentar o estudo aos jornalistas
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