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Cabo Verde: Imprensa deve ser mais proactiva e menos institucional, dizem docentes


Rosana Almeida, jornalista cabo-verdiana, em manifestação pela liberdade de imprensa na Cidade da Praia, Cabo Verde, 4 Fevereiro 2022
Rosana Almeida, jornalista cabo-verdiana, em manifestação pela liberdade de imprensa na Cidade da Praia, Cabo Verde, 4 Fevereiro 2022

O jornalismo cabo-verdiano “não tem cumprido com rigor e segurança o papel de mediador” que lhe é reservado, diz docente e jornalista

Cabo Verde é o terceiro país africano no Índice Mundial da Liberdade de Imprensa publicado nesta terça-feira, 3, pela organização Repórteres Sem Fronteiras, ao ocupar a 36ª. posição.

Apesar de ser também o melhor na África Ocidental, caiu nove pontos no Índice em relação ao ano anterior.

As fragilidades económicas têm condicionado a concretização da liberdade de imprensa em Cabo Verde, dizem docentes e investigadores na área da comunicação social ouvidos pela VOA, que advogam um jornalismo mais proactivo, próximo da sociedade e menos institucional.

João Almeida Medina, jornalista e docente universitário, Cabo Verde
João Almeida Medina, jornalista e docente universitário, Cabo Verde

O jornalista e docente residente na ilha de São Vicente, João Almeida Medina, afirma que a liberdade de imprensa requer sustentabilidade dos órgãos de comunicação social, realidade que, segundo diz, não se observa em Cabo Verde.

“Há uma super exploração de jovens jornalistas que chegam as redacções porque os jornais estão no vermelho. E, enquanto não se tiver uma estabilidade do ponto de vista emocional, do ponto de vista financeiro não se pode pedir que para investigar, escrever com qualidade, para que haja rigor, equilíbrio e segurança nas críticas e se possa fazer um jornalismo de qualidade”, frisa aquele académico.

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Almeida, que é membro do júri do Prémio Nacional de Jornalismo, é peremptório ao afirmar que o jornalismo cabo-verdiano “não tem cumprido com rigor e segurança o papel de mediador” que lhe é reservado.

Silvino Évora, docente universitário, Cabo Verde
Silvino Évora, docente universitário, Cabo Verde

Na mesma linha, o também investigador e docente na Universidade de Cabo Verde, Silvino Évora, observa poucos avanços em matéria da liberdade de imprensa no arquipélago.

“A nível da construção do espectro, do ambiente legal, isso sempre foi referenciado. Garantimos aquilo que é o direito à liberdade de imprensa no seu sentido formal. Porém, nós ficamos inquinados, como eu disse, na questão da outra dimensão que não é a dimensão formal da lei, mas a dimensão material que o país tem para que se exerça uma verdadeira liberdade de imprensa", sustenta Évora.

Ele acrescenta ainda que “não podemos afastar a concessão da liberdade de imprensa com uma dimensão económica da sociedade que nós estamos a analisar, porque não se pode ser livre se não se é economicamente independente”.

Wlodziemierz Szymaniak, docente universitário, Cabo Verde
Wlodziemierz Szymaniak, docente universitário, Cabo Verde

No entanto, Silvino Évora admite que a imprensa cabo-verdiana tem estado a fazer o seu trabalho, dentro dos limites das suas possibilidades, notando que há pluralismo na representação das diferentes ideias e correntes ideológicas na imprensa.

Por seu lado, o docente Wlodziemierz Szymaniak, coordenador do primeiro curso de Ciências da Comunicação em Cabo Verde, entende que o jornalismo precisa ser mais proactivo.

“Podia ser mais profundo e acompanhar a realidade de mais perto. Há alguns jornalistas, que infelizmente, deixam-se instrumentalizar pelo poder político e limitam-se a ser a caixa de correio da voz dos políticos. E, preferia que questionassem mais, que investigassem mais e que talvez… as vezes trabalhassem mais perto da sociedade, embora reconheça haver muitos condicionalismos”, observa.

Ainda assim, Szymaniak assinala progressos no crescimento da imprensa e na qualidade do jornalismo, mas não deixa de ver com preocupação o caso de dois jornalistas e respectivos órgãos que foram constituídos arguidos este ano por terem reportado sobre algo considerado "supostamente estar em segredo de Justiça".

“Estou preocupado pela morosidade da justiça. Se um caso demora nos tribunais 8, 10, 15 anos… até quando pode continuar a ser segredo da justiça, interroga-se?”, conclui.

PR defende liberdade de imprensa

O Presidente da República lembrou hoje que Cabo Verde é um país democrático e sublinhou que “os profissionais da comunicação social têm de poder exercer a sua profissão sem quaisquer constrangimentos”.

“A informação livre e plural é essencial à prática da Democracia. Devemos admitir que a boa governação será sempre tributária de uma atitude fiscalizadora de uma imprensa livre e pluralista. O contributo da comunicação social tem sido fundamental pelo seu papel na consolidação do Estado de Direito Democrático”, afirmou José Maria Neves ao discursar na abertura, na cidade da Praia, da Conferência Nacional Alusiva ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, realizada pela Associação dos Jornalistas de Cabo Verde.

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