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Cabo Verde foi "capturado por interesses privados"


Roselma Évora, cientista política cabo-verdiana
Roselma Évora, cientista política cabo-verdiana

Roselma Évora analisa o estado atual da democracia cabo-verdiana, 34 anos depois da sua instauração

Cabo Verde foi “capturado por interesses privados”, apesar de ser considerado por organizações internacionais e por muitos governos um farol da democracia em África.

Esta leitura é da cientista política Roselma Évora numa análise aos 34 anos da instauração da democracia que se assinalam nesta segunda-feira, 13.

Cabo Verde foi "capturado por interesses privados"
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Ela considera, no entanto, que o país tem de se orgulhar com a democracia e suas leis, mas que tem de sair da democracia eleitoral.

Cabo Verde foi “capturado por interesses privados”, Roselma Évora
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A 13 de janeiro de 1991, realizaram-se as primeiras eleições democráticas em Cabo Verde, completando assim o ciclo da abertura política iniciado a 19 de fevereiro do ano anterior.

O novel, na altura, Movimento para a Democracia ganhou as eleições de forma esmagadora sobre o PAICV, antigo partido único.

Após 34 anos, o arquipélago é apontado por organizações internacionais e por governos como um farol da democracia em África, no entanto, um estudo recente da Afrosondagem mostra que, embora a maioria dos cabo-verdianos apoie a democracia, perdeu muito a confiança nas instituições e nos políticos e 64 por cento pretendem emigrar.

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“Acho que Cabo Verde tem um ativo muito importante, que é a nossa democracia. Nós somos, de facto uma referência. Agora, eu costumo dizer que nós não podemos ser considerados como uma referência num continente que é marcado por casos de autoritarismo, golpe militar, golpe de Estado. Temos que considerar que a nossa democracia é uma democracia jovem, que ainda tem apenas 34 anos.Cabo Verde vai fazer este ano também 50 anos de independência. Mas, entretanto, se formos ver, toda a nossa história política, é uma história de autoritarismo e de autocracia”, aponta Roselma Évora em entrevista à Voz da América nesta segunda-feira, 14.

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Aquela cientista política acrescenta que “ainda precisamos de trabalhar muito as dimensões de cultura política democrática e aplicar, de facto, aquilo que temos na Constituição, nós temos uma democracia que poderia classificar como uma democracia eleitoral, uma democracia formal”.

Ela aponta os dados do mais recente estudo da Afrosondagem e reitera haver “um divórcio entre a classe política e a sociedade, o que indica uma falta de exercício dos princípios elementares e basilares da democracia” e exemplifica a falta de respeito pela liberdade de opinião” como “um atropelo ao exercício da liberdade de opinião”.

Atores da democracia são o problema”

Évora afirma existir uma “descrença” nos políticos e este é um desafio enorme num país onde a democracia não é um problema.

“O problema são os atores da democracia, pessoas que não entenderam o que é o exercício do poder e o que é estar em democracia”, sublinha aquela analista política, para quem a sociedade precisa de referências, mas elas não existem agora.

Ao afirmar que o país foi “capturado por interesses privados”, Roselma Évora, que afirma existir uma “democracia eleitoral” em Cabo Verde, diz que cabe aos partidos políticos inverterem essa situação.

“A grande transformação deve começar dentro dos partidos políticos”, defende, porque “a política passou a ser um espaço de oportunismo, muito oportunismo e muita gente a ingressar na política pensando nos seus próprios interesses, nos interesses de clientelas, nos interesses do grupo”.

Aquela cientista política conclui dizendo que “há um trabalho profundo a ser feito em termos de formação de lideranças, em termos de promoção de engajamento cívico da sociedade” para transformar a sociedade civil cabo verdiana, “que é uma sociedade anémica, apática, que só se manifesta muito esporadicamente e isso debilita muito a democracia”.

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