A prisão em Cabo Verde e a extradição do empresário e enviado especial da Venezuela Alex Saab para os Estados da América está a ser debatida no círculo de relações internacionais do arquipélago, com alguns analistas a afirmar que o caso vai afectar a imagem do país e outros a dizerem o contrário.
Saab foi detido a 12 de Junho de 2020 a pedido dos Estados Unidos, que o acusam de crimes de lavagem de dinheiro e o seu julgamento teve início em Miami na segunda-feira, 14.
O diplomata na reforma e antigo secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Luís Fonseca, diz que a acção de Cabo Verde poderá afectar as suas relações .
"Certamente que terá beliscado a imagem pela controvérsia gerada à volta da detenção de um enviado diplomático em trânsito por Cabo verde”, afirma Fonseca.
Além disso, continua aquele antigo embaixador nas Nações Unidas e junto de outros países, há “o facto de (Cabo Verde) não ter acatado a decisão do Tribunal Superior da Comunidade de Países da África Ocidental (CEDEAO), sem esquecer os danos que obviamente irão causar nas relações bilaterais com a Venezuela e, por extensão, a outros países parceiros".
Posicionamento sério
Leitura diferente tem o também antigo embaixador cabo-verdiano nas Nações Unidas, Fernando Wahnon, quem diz que o país agiu à luz da cooperação e do direito internacional, e não há razões para tanta preocupação.
De "um país que respeita os acordos, que segue as regras e que tem um posicionamento sério na cena internacional, espera-se que dê seguimento aos documentos que assinou, portanto só pode jogar a favor da imagem e credibilidade de Cabo Verde," diz Wahnon.
Questionado se não seria um contra-senso a não aplicação da decisão do Tribunal da CEDEAO, do qual o arquipélago é membro, o diplomata disse que não está obrigado a cumprir, tendo em conta que o país não assinou "o segundo protocolo", conforme a própria decisão do Supremo Tribunal explicita.
Fernando Wahnon, lembra ainda que, para as autoridades cabo-verdianas, Alex Saab não era considerado emissário do governo venezuelano, "porquanto os emissários oficiais são reportados como tal na sua passagem e isso não aconteceu aquando da sua escala e detenção no Sal".
Preso em Cabo Verde a 12 de Junho de 2020 quando seguia para o Irão, alegadamente para negociar produtos alimentares para a Venezuela, Alex Saab foi extraditado para os Estados Unidos no dia 16 depois de o Tribunal Constitucional (TC) ter rejeitado, a 30 de Agosto, o recurso da defesa contra a decisão do Supremo Tribunal da Justiça, que, a 17 de Março, tinha recusado outro recurso contra a sentença de extradição para os Estados Unidos, a 4 de Janeiro, do Tribunal de Relação de Barlavento.
O TC indeferiu vários outros recursos da defesa.
Depois de se ter apresentado no dia 17 junto do juiz Josh O´Sullivan para efeitos de identificação e comunicação das oito acusações de lavagem de dinheiro que pesam sobre ele, Saab regressará ao tribunal no dia 1 para uma audiência em que lhe deverá ser colocada uma fiança e anunciado o cronograma do julgamento.