A bipolarização entre o PAICV e MPD, os dois partidos de arco do poder em Cabo Verde e a excessiva dependência dos cidadãos ao Estado dificultam a intervenção e a sobrevivência política de pequenos partidos em Cabo Verde.
A leitura é de dirigentes partidos e de analistas políticos.
Ao longo dos 31 anos de democracia, a UCID, a terceira força parlamentar do país, tem conseguido apenas eleger deputados em São Vicente e não consegue implantar-se noutras ilhas apesar de algumas investidas nos últimos tempos.
Após duas cisões no seio do MpD, em 1993 surgiram o PCD e em 2000 o PRD, mas ambos partidos acabaram por morrer depois de poucos anos de vida.
Outros pequenos partidos, como o Partido Social Democrata (PSD), o Partido do Trabalho e Solidariedade (PTS) e o Partido Popular (PP), têm participado nas eleições, mas com fracos resultados e sem eleger deputados.
Destes, apenas o PP realizava acções com regularidade, mas não obteve resultados suficientes em número de votos que lhe permitisse pelo menos eleger um parlamentar nas legislativas do ano passado, facto que desgastou a direcção da força política fundada por Amândio Barbosa Vicente.
Aquele dirigente considera que há défice de conhecimento da maioria da população sobre o real funcionamento do Estado e vida do país e de debates na comunicação social.
“Se houvesse debates na comunicação social durante os cinco anos da legislatura, com certeza o povo saberia e teria mais capacidade de escolha e os pequenos partidos conseguiriam pelo menos eleger um ou dois deputados", afirma Barbosa Vicente.
João Santos Luís, vice-presidente e candidato à liderança da UCID, partido com quatro assentos no Parlamento, entende que a falta de recursos humanos e de meios financeiros constitui grandes entraves para o desenvolvimento dos ditos "pequenos partidos".
Ele afirma que as pessoas sentem receio de expressar livremente as suas ideias e de participaram, por terem medo de represálias e de perder o emprego.
“No Orçamento do Estado há cerca de 70 mil contos para a financiar actividades dos partidos, mas a distribuição não é feita de forma equilibrada porque nem o MPD e o PAICV estão interessados nisto", conclui Luís.
Para o professor universitário de comunicação Daniel Medina, a fraca ascensão dos pequenos partidos deve-se à bipolarização e à excessiva dependência dos cidadãos do Estado.
"Tudo, digamos assim, em Cabo Verde é dominado pelos dois grandes partidos, ao dominarem toda a cena política estão fazer a destruir o pensamento minoritário, o que é nefasto para da democracia, já que há pessoas com bons pensamentos e ideias válidas que podiam estar nas pequenas formações partidárias", afirma aquele analista político.
Apesar das dificuldades, tanto o PP como a UCID prometem continuar a lutar pela consolidação democrática.