O vice-primeiro-ministro e titular da pasta das Finanças de Cabo Verde Olavo Correia disse recenmente que o grande drama do país é a politização no seio das instituições e afirmou que apenas 50 por cento dos funcionários públicos trabalham enquanto os restantes d"estrabalham", situação que em seu entender, faz com que em vez de pôr a máquina a construir, destrói.
Analistas sociais e políticos e sindicalistas responsabilizam os dois partidos do arco do poder, Movimento para a Democracia (MpD), no Governo, a que pertence Olavo Correia, e o Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), na oposição, pela partidarizacao da administração do Estado.
Para o sociólogo Redi Lima, sempre se fala desta questão, mas nunca se toma a coragem para mudar este estado de coisas, mas, pelo contrário, promovem-se os militantes e amigos com a atribuição de cargos e tachos, transformando a Administração do Estado na extensão dos partidos.
“O problema é muito mais grave… não é apenas porque uns trabalham e outros destrabalham… mas devido a colocação nos cargos de gente por ser do partido vencedor das eleições , mas que não possui competência para estar nesses postos, isto de fato tem sido o problema que temos em Cabo Verde”, considera Lima, para quem este comportamento tem contribuído para "a fuga de quadros com competência por falta de igualdade e oportunidade".
Por sua vez, o comentador político António Ludgero Correia afirma que a palavra chave que deve imperar na administração pública é a “profissionalizacao", passando-se dos discursos à prática.
“Primeiro deve-se mudar o chip – mentalidade…. eu quero ter bons profissionais na Administração Pública, vou desenhar e ver qual o perfil adequado para que cada cargo dê o máximo de si… as estruturas públicas devem trabalhar com profissionais qualificados”, defende o antigo conselheiro presidencial.
Enquanto isso, o secretário nacional do Sindicato dos trabalhadores da Administração Pública afirma que os níveis de partidarização existentes nos serviços do Estado resultam da ação dos próprios governantes.
Luís Lima diz que uma das primeiras causas é a ausência de concurso público para os cargos diretivos.
“Geralmente, os gestores são de confiança política e aí começa logo a influência partidária dentro da Administração Pública… agora nós não podemos aceitar que um governante venha dizer que os trabalhadores de Cabo Verde que são 50 por cento estão a trabalhar e os restantes a destrabalhar… porque sabemos que há cabo-verdianos que são dedicados à administração independente da sua opção politica”, afirma Lima.
Refira-se que os dois principais partidos de Cabo Verde acusam-se mutuamente da partidarização do Estado quando estão no poder ou na oposição.
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