O ano de 1991 marca o início de uma nova era de Cabo Verde, 16 anos depois da Independência Nacional. No dia 13 de Janeiro, pela primeira vez, os cabo-verdianos foram às urnas escolher, em eleições multipartidárias deputados e Presidente da República.
Entretanto, para se chegar ao dia da realização das primeiras eleições democráticas, foi preciso o PAICV, então partido no poder, fazer cair o célebre artigo quarto da constituição que consagrava o partido-Estado, abrindo desse modo caminho à legalização e exercício da actividade política de outras forças partidárias.
No processo negocial para a criação das bases que levariam à marcação da data das primeiras eleições democráticas, a delegação do MpD foi liderada por Eurico Correia Monteiro, enquanto a equipa do PAICV foi presidida por Corsino Tolentino.
As negociações. segundo Eurico Monteiro. foram de intensos debates e algumas dificuldades pelo meio, já que, segundo o dirigente do Movimento para a Democracia, o partido no poder queria impor algumas condições, nomeadamente a marcação de eleições presidenciais em primeiro lugar e só depois as legislativas, condições prontamente rejeitadas pela oposição.
Já Corsino Tolentino, chefe da equipa negocial do PAICV, considera que as negociações para a abertura democrática foram muito positivas.
Ele afirma que qualquer negociação sempre conhece dificuldades, mas o mais importante é as pessoas terem a capacidade de ultrapassar os problemas.
Se depois do 5 Julho de 1975 foi preciso fazer quase tudo para arrancar o país, o antigo primeiro-ministro Carlos Veiga afirma, que após a vitória do MpD, havia necessidade de se começar praticamente do zero para a implementação de um ambiente de pluralidade de ideias e convivência democrática.
Veiga considera que foi preciso promover uma verdadeira abertura económica, proporcionando o crescimento, visando a melhoria das condições do país e das populações nos diferentes domínios.
Foi com o MpD no poder “que aumentamos a cobertura telefónica, eléctrica, água e outros bens essenciais para as populações”, realça Carlos Veiga
O antigo primeiro-ministro reconhece que nos últimos 15 anos da vigência democrática e sob a governação do PAICV, o arquipélago deu passos importantes no processo de desenvolvimento em várias áreas, mas regista algumas preocupações actualmente, com realce para o fraco crescimento da economia, situação que preocupa os cabo-verdianos sobretudo a camada jovem, com “muitos com formação superior, mas sem perspectiva de emprego”.
Na vivência democrática, o MpD partido que suportava o Governo conheceu duas cisões, primeiro em 1993 e depois em 1999, originando a criação do PCD e do PRD, partidos que não singraram e desapareceram da cena política nacional.
Tanto Eurico Correia Monteiro como Carlos Veiga reconhecem que a inexperiência politica de alguns dirigentes e também o acomodar devido aos expressivos resultados nas eleições pesaram nas desavenças ocorridas, mas ambos entendem que estas situações não prejudicaram o sistema democrático que funciona com normalidade no arquipélago.
Sobre queixas de sufoco à oposição durante os primeiros anos de vida democrática, Carlos Veiga diz que não há razão de ser, adiantando que o PAICV não conseguiu gerir bem a situação de estar fora da governação, porquanto estava habituado sempre a mandar.
Instado a comentar essa questão, Corsino Tolentino entende que houve alguma dose de arrogância do partido que ganhou as eleições o MPD, devido aos expressivos resultados que conseguiu.
Apesar do hábito de poder do PAICV que governou o país durante os primeiros 15 anos da independência, Tolentino afirma que a força da maioria alcançada pelo MpD terá condicionado um pouco o espaço de manobra da oposição.
Para o antigo governante, o mais importante é que valeu a pena a independência e a construção do regime democrático no arquipélago.