Milhares de moradores, incluindo deslocados do conflito na província moçambicana de Cabo Delgado, estão confinados no interior de suas residências desde a sexta-feira, 18, na vila sede do distrito de Nangade, que está sitiada devido uma sequência de ataques terroristas nas aldeias circunvizinhas, disseram à VOA nesta terça-feira, 22, vários moradores locais.
O grupo armado atacou cinco aldeias desde sexta-feira, 18, ao redor da sede distrital de Nangade, que fica na linha de fronteira com a Tanzânia, incluindo as posições da força de guarda fronteira, cortando todas as ligações por terra com os distritos de Mueda e Palma, disseram várias testemunhas.
“A situação esta complicada. Desde sexta-feira até hoje a situação não é boa, quase toda vila esta cercada” de ataques, que estão a fustigar as aldeias nos arredores de Nangade, disse à VOA Bonifácio Abreu, morador local, afiançando que a população vive confinada e não pode se movimentar para outras aldeias.
Em Mandimba, prosseguiu Bonifácio Abreu, o grupo decapitou três pessoas na sexta-feira, além de ter saqueado vários bens das residências da população, que agora esta refugiada na vila sede distrital.
Ele acrescentou que “hoje, cerca das 14 horas estavam a queimar as casas na aldeia” junto ao rio Rovuma, na fronteira com a Tanzânia.
Segundo os moradores, o grupo atacou e destruiu com fogo as aldeias de Chacamba, Muhia, Mandimba, Armando Guebuza e Ngangolo, que não tinham sido atingidas pelo conflito que assola Cabo Delgado desde Outubro de 2017.
Outro morador, Zunaid Omar, contou que a população não está a realizar os seus afazeres devido ao medo dos ataques e receia agora que a fome venha a matar a população confinada no lugar da guerra.
“Nós estamos na gaiola, ninguém sai e nem entra desde sexta-feira”, disse em alusão ao confinamento voluntário, salientando que “você assusta quando já amanheceu e anoiteceu”, sem muitos recursos para se manter.
“Ninguém vai à machamba, todas as pessoas, que são muitas estão aqui na vila”, precisou Zunaid Omar, adiantando que o barulho que se ouvia no fundo, durante a conversa, era de bombardeamentos da força estatal para repelir o avanço dos terroristas.
A Polícia em Pemba não respondeu às nossas chamadas e o porta-voz do SAMIM, a força da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), igualmente não respondeu ao pedido de comentário enviado pela VOA por e-mail.
A nova sequência de ataques surge poucos dias depois das autoridades moçambicanas terem anunciado o enfraquecimento do grupo terrorista após a morte de mais um líder dos insurgentes, o sétimo em dois meses.
O grupo já tinha atacado com maior visibilidade a Ilha de Matemo, no distrito de Ibo, na terça-feira, 1 de Fevereiro, matando três pessoas e destruindo com fogo várias palhotas incluindo o centro de saúde local, além de ter roubado uma embarcação com alimentos.
Antes, em Macomia, o grupo tinha emboscado dois camiões que transportavam material para a reposição da ponte sobre o rio Messalo, matando um dos dois condutores, estando outro ainda desaparecido.
A insurreição, com inspiração radical islâmica, irrompeu em 2017, deixando pelo menos 3.500 mortos e cerca de 820 mil desalojados.