A má gestão da crise de deslocados de guerra, nas áreas de reassentamento, pode gerar um ambiente propício para a multiplicação do conflito, que devasta o norte da província moçambicana de Cabo Delgado, diz o Centro de Integridade Pública (CIP).
O CIP chegou a essa conclusão depois de fazer uma pesquisa de campo nas províncias de Cabo Delgado e de Nampula para apurar como e onde vivem os deslocados de guerra.
A pesquisa, realizada entre Fevereiro e Março, indica que Governo não criou os tradicionais campos de deslocados, fazendo com que as pessoas que fugiam de guerra encontrassem abrigo em casas das chamadas famílias de acolhimento.
“Neste momento nós temos cerca de 700 mil deslocados, isso é aproximadamente 30% da população de Cabo Delgado, e o grande problema desses deslocados é que não têm nenhum apoio do Estado”, disse Borges Nhamire, pesquisador do CIP.
Nhamire explica que a pesquisa notou que “as pessoas saíram das suas terras e foram se espalhando pelas províncias, nas zonas que elas acreditam ser as mais seguras, e também pelas províncias vizinhas; o Estado não esteve lá para acolher, e isso se faz criando centros de acomodação de deslocados”.
Igualmente, diz Nhamire, o Governo não alocou nenhum orçamento especial para a assistência aos deslocados de Guerra, que sublinha que a má gestão deste processo propicia a multiplicação do conflito armado.
Ajuda
Acrescido a isso, diz Nhamire, “é muito problemático também para as agencias de ajuda humanitária que querem encontrar as pessoas no mesmo lugar para prestar ajuda, e não as encontra, porque estão espalhadas em bairros, aldeias e nos distritos”.
O estudo indica que, até Fevereiro deste ano, haviam sido criados 21 centros de reassentamento definitivo de deslocados de Cabo Delgado, que albergavam cerca de 10 mil das 100 mil famílias deslocadas existentes na província; e um centro de reassentamento definitivo na província de Nampula, com 2500 pessoas
Todo o apoio aos deslocados é confiado aos parceiros, com agências humanitárias das Nações Unidas na dianteira.
Para a representante do Programa Mundial da Alimentação (PMA) no país, Antonella D’Aprile, “esta é uma catástrofe humanitária de proporções épicas.”
“As pessoas estão completamente traumatizadas com a violência que testemunharam nos últimos dias e agora, mais do que nunca, precisam de ajuda”, diz D’Aprile.
As autoridades, entretanto, dizem que há um plano para a assistência aos deslocados.
“O plano de acção contempla acções imediatas que, naturalmente, estão viradas para a assistência humanitária”, disse a ministra da Administração Estatal, Ana Comoana.
A lista apresentada por Comoana tem “iniciativas na área de agricultura, actividade pesqueira e outras de natureza económicas, incluindo actividades especificas viradas para jovens”.