O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) diz que a situação de segurança continua volátil na província moçambicana de Cabo Delgado, que resultou em mais de meio milhão de deslocados internos.
"Existem 530 mil deslocados internos nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa, e as suas principais necessidades estão relacionadas com a falta de abrigo e de acesso aos serviços básicos, entre outras", afirma o ACNUR numa avaliação à situação resultante da insurgência armada no norte de Moçambique.
O ACNUR realça que o acesso a alguns distritos afectados por ataques jihadistas continua difícil para as agências das Nações Unidas e outros actores humanitários.
O pesquisador e coordenador do Conselho Técnico do Observatório do Meio Rural, João Feijó, está no terreno, e considera problemática a situação em Cabo Delgado, e isso coloca um grande desafio ao Estado moçambicano.
Avançou que o Estado moçambicano está fragilizado, "não só por causa da Covid-19, da diminuição de preços das matérias-primas, da decisão dos doadores (suspensão do apoio directo ao Orçamento de Estado), como também do esforço de guerra no centro e norte do país, o que faz com que não esteja em condições para integrar social e economicamente meio milhão de indivíduos".
Falta de alimentação
Feijó referiu que são mais de quinhentas mil pessoas que se encontram acomodadas em centros de acolhimento em condições bastante precárias, "com carências alimentares, apesar de estarem a ser assistidas pelo Programa Mundial de Alimentação, Cáritas, entre outras agências humanitárias".
Realçou que "com o início da época chuvosa, surge o risco de cólera, havendo já casos desta doença que estão sendo noticiados, bem como de indivíduos que abandonam os centros de acolhimento e voltam aos locais de origem, dado que há alguma recuperação de certas zonas, por parte do exército moçambicano; e então a situação é dramática".
Para o director do Centro de Integridade Pública, Edson Cortez, que recentemente esteve em Cabo Delgado, a situação naquela província é dramática, anotando que todo o tipo de apoio é necessário, mas, fundamentalmente, o direccionado ao desenvolvimento.
Avaliação difícil
"A ajuda ao desenvolvimento é necessária, tendo em conta os grandes níveis de pobreza que aquela região enfrenta, os quais podem não ser a principal causa do conflito, mas podem ter contribuído para que uma parte da população local se envolvesse com os insurgentes", sublinhou Cortez.
O director do Centro para a Democracia e Desenvolvimento, Adriano Nuvunga, é também defensor deste ponto de vista, considerando que a ajuda ao desenvolvimento "é a solução a curto e médio prazos para o conflito em Cabo Delgado".
Entretanto, as autoridades governamentais dizem que do ponto de vista militar, a situação está a melhorar em Cabo Delgado, mas o pesquisador João Feijó diz tratar-se de uma situação difícil de avaliar, "porque a informação disponível é muito parcial e estratégica; costuma-se dizer que numa guerra a primeira vítima sempre é a verdade".