O Governo de Moçambique lançou formalmente na segunda-feira, 7, o movimento de retorno das pessoas que haviam abandonado os distritos de Mocímboa da Praia e Palma, em Cabo Delgado, devido a ataques jihadistas, mas analistas reiteram que é necessária muita prudência nesse processo, sobretudo para evitar a radicalização e a ocorrência de novos ataques.
O governador provincial de Cabo Delgado, Valigy Tauabo, esteve ontem em Palma, onde, em comício, afirmou que pelo menos 50 mil pessoas terão regressado àquele distrito, dada a melhoria das condições de segurança.
Entre os regressados, contam-se 136 funcionários públicos.
Na deslocação a Palma, aquele governante passou por Mocímboa da Praia, que esteve sob ocupação dos insurgentes durante um ano.
Em Mocímboa da Praia, alguns residentes manifestaram a sua satisfação por, finalmente, regressarem às aldeias de origem, após viverem, mais de um ano, em centros de deslocados.
Entretanto, especialistas dizem não saber que condições foram criadas para acolher os regressados, e alertam que, se isso não tiver sido feito, este processo pode ser problemático.
"É preciso delinear estratégias para a integração das pessoas que estão a regressar, para que não sejam alvo de radicalização, e evitar que sejam mobilizadas pelos terroristas para novos ataques às suas aldeias", alerta Egna Sidumo, docente universitária e especialista em assuntos de segurança.
O chefe da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique, SAMIM, que apoia o país no combate ao extremismo violento, afirmou, no sábado, 5, que já foi destruida a maior parte das bases dos terroristas em Cabo Delgado.
Mpho Molomo disse que "os terroristas foram desalojados das suas principais bases e neste momento estão muito enfraquecidos, nós impedimos as suas acções, de tirar a vida às pessoas, e as próprias pessoas asseguram que, devido à nossa presença nestas áreas, sentem-se mais seguras".
O militar reconheceu, no entanto, que apesar dos sucessos, há ainda alguns focos de resistência dos rebeldes, caracterizados por ataques esporádicos em algumas áreas recônditas de Cabo Delgado, com o objectivo de saquear alimentos às populações.
O chefe da SAMIM acrescentou ainda que os jihadistas "estão a realizar uma guerra assimétrica, operando em pequenos grupos, estão em acções de pilhagem em algumas vilas para obterem alimento".
Para o jornalista Fernando Lima, neste momento, o aspecto fundamental é conter esses ataques e consolidar o território.
“Há muito por fazer, possívelmente o papel mais complicado, que é a consolidação de todo o território”, sustenta Lima, para quem eventualmente a guerrilha agora vai ser mesmo guerrilha, lançando ataques na tentativa de desgastar as forças que vão ocupar posições defensivas.