Problemas de protagonismo de distribuição territorial e da actuação das forças estrangeiras envolvidas no combate ao terrorismo na província moçambicana de Cabo Delgado têm resultado em divisões nas tropas, o que constitui uma grave fragilidade na luta contra este fenómeno.
A afirmação é de analistas políticos moçambicanos e surge depois de uma investigação do Instituto sul-africano para Estudos de Segurança, (ISS, nas siglas em inglês) apontar "divisões profundas" nas tropas estrangeiras em Moçambique.
O estudo defende uma visão conjunta para a estabilidade a longo prazo, que inclua todas as forças em Cabo Delgado.
O jornalista Fernando Lima diz ter conhecimento de divisões, mas não de divisões profundas, e realça que desde o princípio, houve uma preocupação, sobretudo da parte de Moçambique, de harmonizar toda a presença das forças internacionais, para que haja uma participação coordenada dessas forças.
Aquele analista político assinala que "por problemas de protagonismo, de diferenciação de forças, da própria distribuição territorial e da performance das forças, têm surgido alguns problemas, e tenho conhecimento de que a parte moçambicana tem feito um grande esforço para resolver este tipo de contrariedades, mas também é sabido que a performance da força do Ruanda e da SADC é diferenciado".
Lima precisa que, mais uma vez, o Governo tem tentado fazer com que a prestação da força da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) melhore, e este tem a ver com meios materiais e humanos.
Estes assuntos foram discutidos na reunião da Troika da SADC, em Lilongwe, Malawi, e estava agendado que fossem discutidos na cimeira desta terça-feira, 12.
Lima diz que “quer-me parecer que o ponto 7 do comunicado final esteja a referir-se, exactamente, à melhoria do performance da força da SADC".
Na passada segunda-feira,11, altas patentes militares da força internacional em Cabo Delgado, estiveram reunidas na cidade de Pemba, num encontro considerado por algumas correntes de opinião, como traduzindo as divisões existentes nas tropas.
Fragilidade é um perigo iminente
Mas, para Fernando Lima, o encontro visava resolver os problemas que estão a ocorrer em Nangade e Macomia, que são os elos mais fracos nesta chamada e convencionada luta contra o terrorismo.
"Se as forças puderem agir a uma só voz, isso resolveria os problemas", realça aquele analista, acrescentando que nas últimas semanas, a África do Sul aumentou a sua presença militar em Moçambique, quer em meios, quer em soldados, sendo expectável que a prestação da SADC em Macomia melhore.
Contudo, afirma não saber se houve o mesmo esforço em relação aos contingentes tanzaniano e do Lesotho em Nangade e em relação ao contingente do Botswana em Mueda "porque se não foi feito o mesmo tipo de upgrade nos outros teatros operacionais, continuará a haver esses problemas".
Para o político Raúl Domingos, é fundamental que esses problemas sejam resolvidos porque se isso não acontecer, "estaremos perante uma fragilidade, porque para um combate efectivo, é preciso que a força conjunta seja coesa".
Domingos anota que a partir do momento em que há divisões na força internacional, "estamos perante uma fragilidade que compromete toda a operação".
Entretanto, o também analista político Fernando Mbanze considera que se houver divergências na força internacional posicionada em Cabo Delgado "não devem ser tão profundas como se aponta porque o que temos estado a ouvir é que as forças da SADC até já realizaram operações conjuntas com as forças ruandesas e moçambicanas e algumas dessas operações aconteceram, por exemplo, no distrito de Nangade".
"Eu penso que são essas estratégias conjuntas com forças de segurança que permitem os avanços que se têm vindo a registar na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado”, sublinha Mbanze.
O estudo do ISS concluiu que "estratégias conjuntas com forças de segurança que puxem na mesma direção conduziriam a um muito melhor resultado", uma situação corroborada pelas Agência das Nações Unidas para os Refugiados, que continua a considerar "prematuro encorajar as pessoas deslocadas a regressar às suas casas".
"O destacamento da SADC é assinalado em documentos oficiais da UA como parte da sua Força Africana de Reserva, mas até agora tem havido pouca comunicação entre a SADC e a UA a este respeito", sublinha o estudo assinado por Liesl Louw-Vaudran, investigadora principal do ISS.