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Brasil foi sempre “um braço da repressão e da corrupção em Angola”, diz Rafael Marques


Rafael Marques, activista e jornalista angolano
Rafael Marques, activista e jornalista angolano

Activista e jornalista angolano lembra que os casos da corrupção entre os dois países não começou com Lula da Silva, mas vem desde a ditadura militar.

O activista e jornalista angolano Rafael Marques acusa o Brasil de ter sido sempre “um braço da repressão e da corrupção em Angola” para a manutenção de José Eduardo dos Santos no poder.

Em conversa com a VOA no Brasil, onde se encontra para participar em debates sobre a corrupção, Marques questiona a falta de posicionamento do Governo brasileiro sobre as violações de direitos humanos em Angola e lembra que os casos de corrupção entre os dois países ocorrem desde a ditadura militar brasileira, ou seja muito antes de Lula da Silva chegar ao poder.

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O jornalista considera que as relações diplomáticas entre os dois países pautam-se apenas por interesses comerciais.

“[O Brasil] nunca teve um olhar crítico sobre a sociedade angolana, sempre esteve às ordens do Presidente José Eduardo dos Santos e nunca teve um pensamento autónomo sobre como, por exemplo, agir no sentido de garantir a extensão da solidariedade do povo brasileiro para com o povo angolano que, depois do colonialismo, viu-se, não só com uma guerra fratricida, mas com um presidente que é coercivamente neocolonialista”, sublinha Marques.

“Corrupção vem antes de Lula”

A conversa com o jornalista aconteceu antes de o antigo Presidente brasileiro Lula da Silva ter sido formalmente constituído réu num caso que envolve negócios da Odebrecht em Angola.

O Ministério Público Federal acusa Lula da Silva de ter usado a sua influência para conseguir junto do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) financiamentos públicos para construções da empreiteira em território angolano.

Além da Lava Jato, o antigo Presidente já havia sido acusado, no começo deste mês na Operação Janus da Polícia Federal, por alegada corrupção em obras da Odebrecht e da empresa do sobrinho de Lula na hidroelétrica de Cambambe, em Angola.

Entretanto, Rafael Marques denuncia a “relação promíscua” entre os negócios brasileiros e o Governo angolano e lembrou que os casos de corrupção envolvendo os dois países ocorrem desde a ditadura militar brasileira, ou seja, muito antes de Lula.

“Pensar que o Lula teve uma relação mais especial ou mais próxima com o Presidente angolano do que outros presidentes brasileiros não é verdade porque essa relação não é exclusiva do Lula, não foi Lula quem iniciou essa corrupção”, lembra Marques, realçando ter havido um “potenciamento [no período da gestão dele] com a abundância de dinheiro que havia nos dois países por causa dos elevados preços de petróleo”.

Odebrecht, "a empresa do Presidente"

O jornalistas e activista também lembra que a empresa favorecida nas parcerias comerciais entre os dois países sempre foi a Odebrecht, especialmente por causa da proximidade que a empreiteira estabeleceu com José Eduardo dos Santos.

“A Odebrecht é conhecida em Angola como ‘a empresa do Presidente’. A gozar, os angolanos dizem que o Presidente é sócio da Odebrecht porque não conseguem compreender como é que uma empresa tenha tanto acesso ao Presidente e às obras sem concursos públicos, e que se tornou uma verdadeira embaixada do Brasil em Angola”, acusa Marques.

Por outro lado, ele questiona o alto custo e a baixa qualidade das obras da Odebrecht no seu país.

“As obras são uma desgraça, a Odebrecht está envolvida na construção de três hidroelétricas, já se gastaram bilhões e bilhões de dólares e continuamos a ter os mesmos problemas de energia com blackouts o tempo todo, todas as semanas”, revela.

Para ele, é importante que as investigações das autoridades brasileiras sobre a actuação da Odebrecht em Angola continuem, mas é fundamental que elas também identifiquem os nomes das figuras angolanas envolvidas.

“Não deve ser apenas um processo para julgar Lula da Silva e o PT, mas que seja para combater a corrupção, quer no Brasil, quer em Angola”, completa Marques.

Debate no Rio de Janeiro

O jornalista e activista angolano está no Brasil para falar sobre corrupção e conflitos de interesse da empreiteira brasileira Odebrecht em Angola, tema pesquisado por ele em conjunto com a Agência Pública.

Rafael Marques vai participar num debate sobre esses emas neste sábado, 15, na Casa Pública, no Rio de Janeiro, num evento a ser transmitido ao vivo pelo link: https://www.youtube.com/apublica.

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