O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, está a caminho de Riad para conversações regionais, na segunda e terça-feira, sobre a assistência humanitária em Gaza, um roteiro pós-guerra para os territórios palestinianos e estabilidade e segurança no Médio Oriente.
“O secretário discutirá os esforços em curso para alcançar um cessar-fogo em Gaza que garanta a libertação dos reféns e como é o Hamas que está entre o povo palestiniano e um cessar-fogo”, disse o Departamento de Estado.
Blinken participará numa reunião ministerial do Conselho de Cooperação do Golfo, uma aliança regional de países árabes vizinhos do Golfo Pérsico que se reúne na capital da Arábia Saudita.
O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse ao programa “This Week” da ABC no domingo que os Estados Unidos continuam a pressionar por um cessar-fogo de seis semanas na guerra de quase sete meses em Gaza entre Israel e militantes do Hamas.
As negociações de cessar-fogo decorrem há meses e, apesar dos sinais periódicos de que um acordo poderá estar próximo, Kirby não deu qualquer indicação de novos progressos nas discussões.
Ele disse que Israel garantiu às autoridades dos EUA que não enviará tropas terrestres para a cidade de Rafah, no sul de Gaza, sem ouvir plenamente as preocupações dos EUA de que tal ataque colocaria em risco a vida de mais de um milhão de palestinianos que estão lá abrigados.
Kirby disse que um cais improvisado no Mar Mediterrâneo que está sendo construído na costa de Gaza poderia ser concluído em duas ou três semanas para que mais ajuda humanitária pudesse ser transportada ao estreito território para ajudar a alimentar os palestinianos famintos.
Gaza, roteiro pós-guerra
A crise humanitária em Gaza continua grave, apesar do aumento da ajuda diária e de Israel começar a utilizar uma passagem norte e o porto de Ashdod para entregas humanitárias.
Os Estados Unidos estão a colaborar com parceiros para estabelecer um corredor humanitário marítimo; no entanto, estes esforços são insuficientes, uma vez que toda a população de Gaza enfrenta o risco de fome e desnutrição.
Autoridades dos EUA declararam que Washington está empenhado em promover a paz e a segurança duradouras, tanto para israelitas como para palestinianos, nomeadamente através de medidas práticas destinadas a estabelecer um Estado palestiniano que exista ao lado de Israel.
Barbara Leaf, secretária de Estado adjunta para Assuntos do Oriente Próximo no Departamento de Estado, disse recenetemente que "a Cisjordânia e Gaza devem ser reunificadas sob a Autoridade Palestiniana. Uma Autoridade Palestiniana revitalizada é essencial para produzir resultados para o povo palestiniano, tanto na Cisjordânia como em Gaza e estabelecendo as condições para a estabilidade.”
Washington também deixou claro que o Hamas não deveria desempenhar um papel nessa governação.
Analistas, no entanto, dizem que há muitos obstáculos à visão dos EUA.
Michael Hanna, diretor de programas do International Crisis Group, observou que o atual governo israelita demonstrou uma “rejeição total da ideia de uma solução de dois Estados”. Além disso, “a realidade física mudou tão dramaticamente desde 1967 que torna quase uma impossibilidade a possibilidade de um Estado palestiniano viável e contíguo”.
Ele disse à VOA: “Não há nenhuma garantia real” de que os países do Médio Oriente estejam particularmente empenhados na reconstrução pós-guerra na Faixa de Gaza.
“É muito difícil para muitos destes partidos regionais envolverem-se politicamente neste momento, enquanto a guerra continua,” disse.
Perspectivas para a normalização saudita-israelita
A administração Biden continua a trabalhar num potencial acordo que poderá levar à normalização das relações com Israel, embora alguns responsáveis e analistas considerem isso uma possibilidade remota.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, rejeitou a solução de dois Estados e o regresso da Autoridade Palestiniana ao controlo de Gaza, exigências que são amplamente apoiadas pela comunidade internacional.
Os sauditas exigiram, como pré-requisito, um compromisso israelita com a solução de dois Estados.
"Se as posições de Netanyahu não mudarem, ele provavelmente não será capaz de conseguir a normalização com a Arábia Saudita. Pode ser que uma oferta EUA-Saudita para tal normalização seja feita publicamente, para que, quando os israelitas forem às urnas, possam ter essa opção em consideração", disse Nimrod Goren, pesquisador sénior para assuntos israelitas no Instituto do Médio Oriente, à VOA por e-mail.
EUA analisam supostas violações de direitos
As reuniões agendadas de Blinken no Médio Oriente ocorrem num momento em que os EUA avaliam novas informações do governo israelita para determinar se devem colocar certas unidades militares israelitas na lista negra.
Estas unidades são acusadas de violar os direitos humanos dos civis palestinianos na Cisjordânia antes dos ataques terroristas do Hamas, a 7 de Outubro, contra Israel.
Os críticos salientaram que a “lentidão” do Departamento de Estado na tomada da sua decisão realça o tratamento especial que Israel continua a receber.
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