O general António Bento Bembe, em aparente ruptura com o MPLA, acusou o governo de não respeitar os compromissos que assumiu no Memorando de Entendimento para a paz em Cabinda, do qual ele foi co-signatário em 2006, na província angolana do Namibe.
Depois de ser acusado de ter traído a causa dos cabindas quando aderiu ao partido no poder, o general na reserva diz agora que o governo é o principal responsável pela não conclusão daquele acordo, o que está a dar azo a novas iniciativas de paz para Cabinda.
Mas ao mesmo tempo, Bento Bembe minimizou a iniciativa da UNITA anunciada há dias de levar ao parlamento uma proposta de solução para o conflilcto no enclave, afirmando que a UNITA não tem credibilidade.
“O governo assumiu compromissos que não quer respeitar e é o responsável de toda esta desordem”, disse Bento Bembe que, apesar de, supostamente, ter sido afastado do cargo, se assume como presidente do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD).
O general na reforma, assegurou que o Memorando “não pode, de forma nenhuma, ser anulado por ninguém ou deixar de existir”, mas insiste que “infelizmente os nossos irmãos do governo e do MPLA continuam com as suas velhas formas de tratar os problemas o que está a criar confusão no seio dos cabindas e dos angolanos”.
Para Bento Bembe, o memorando “é um conjunto de disposições que o governo devia respeitar” e não apenas a integração dos ex-guerrilheiros da FLEC .
Proposta da UNITA é “uma aventura”
O presidente do FCD considera "uma aventura" a eventual proposta de autonomia pretendida pelo líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior.
“Nós conhecemos a UNITA. Andamos juntos nas matas e só dá credibilidade às suas declarações quem não a conhece”, disse, acrescentando que, na sua opinião, a UNITA pode sser ainda “pior”.
Bento Bembe foi, na última legislatura, deputado e membro do Comitê Central do MPLA. Antes tinha sido nomeado ministro sem pasta e mais tarde secretário de estado para os direitos humanos.
O sociólogo e académico angolano, João Lukombo, admite que a nova postura de Bento Bembe seja o resultado de “alguma desilusão” não só em relação aos acordos, mas também quanto às promessas que terá recebido do Governo.
“Porquê é que não denunciou antes?”, questionou Lukombo, para quem “o integrar-se no MPLA como membro pode ter criado alguma limitação nessa sua integração”.
O FCD é integrado pela FLEC Renovada, presidida por António Bento Bembe, pela FLEC/FAC, então liderada pelo falecido Nzita Tiago, e pela Frente Democrática de Cabinda (FCD), que tinha à frente da organização António Lello, tendo participado na altura das negociações do memorando de entendimento membros da sociedade civil e da diáspora.
Em declarações anteriores, Bento Bembe tinha reclamado que no memorando de entendimento, assinado a 1 de agosto de 2006, a sua comissão conjunta para a sua implementação, composta por membros do Governo central, do FCD, da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e do Conselho de Igrejas Cristãs de Angola estava paralisada desde 2009, tendo entrado “numa fase de apatia”.
Entretanto, um grupo de membros do FCD anunciou, em 2019, o afastamento de Bento Bembe da liderança da organização por, alegadamente, a ter “abandonado voluntariamente” em 2017, “sem o consentimento dos seus membros e sem aviso prévio”, tendo sido substituído pelo general na reforma, Maurício Nzulú.
Em nota de imprensa escreve-se que “foi com surpresa que os membros do FCD viram o então seu líder na lista de deputados do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, à Assembleia Nacional”.
“Perante a recusa repetida do general Bento Bembe aos convites da maioria dos membros da direção para o devido esclarecimento do seu posicionamento, e constatado o vazio de liderança, os dois vice-presidentes e demais membros da organização convocaram, no dia 21 de abril de 2019, uma reunião extraordinária, que resultou na criação de uma Comissão de Transição, encarregue de dirigir a organização até à eleição da nova direção”, dizia o documento.
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